sábado, fevereiro 18, 2006

Para se morrer no meio fio________

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Pela calçada cor de lágrima
no meio fio, meio fim, meio de mim.
Para se morrer é preciso [ entendimento poético ]
Deve-se ser forte-fraco-forte-fraco- - - - - - - - assim - - - - - - -
E pela noite ficam pedaços de mim,
perdidos.
Desejo um apoio assim sabe desses que se quer
Então busco me encontrar em algum meio fio :
Aos prantos, num choro de morrer,

lavo a calçada, toda ela para você.
E morro.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

[ r e t i c ê n c i a s ]

Ana, minha filha, não mexa neste copo; esta água é da mamãe. Só da mamãe. Vamos querida...e Tom? Já disse que não quero saber de você de interesse nesta gaveta velha! Crianças, para o quarto! Olhem a Clara como dorme; quero vocês assim. Deitem. [ e deitaram caídos de sono. disse a eles que ] a mamãe vai contar uma coisa para vocês: hoje, não como o tempo vivente, mas como um tempo histórico; é porque já fazem 10 anos e eu___ olhem para a mamãe, tenho já 43 [ as crianças olharam como se ]. Há algo que é preciso dizer-lhes: demora-se mesmo aceitar as formas, até por conta disso que me perco [ me perdi entre quatro olhinhos sonolentos ] e até as palavras, elas me fogem todas. Perdoem mas agora mesmo não era isso que eu gostaria de falar. Preciso que ouçam e ainda são tão jovens. Oh! Quando não se consegue viver a brutalidade real diária, como o pão, este: o melhor exemplo! o pão que se compra todos os dias às 17:00 horas; assim meus filhos, vive-se de enganos como vivi. Eu: onde vai-se para a cama de coração quente, mas de pernas frias e com o tempo, um tempo talvez de 10 anos, assim, com o tempo crianças: o gelo das pernas irradia para o ventre de mulher. Pretrifica. Consome-lhe os seios: um câncer nas vísceras [ a cria já toda ela dormia ], a pele com o tempo vai sendo toda manchada e já não se pode chorar. Decide-se. E perdoem se abro os cantos da boca, mas esta mãe, que antes mulher, agora sêca. E de que serve uma mulher que não pode mais chorar? Icapaz de si.
É que quando se nasce errado, faltando uma parte, não se deve procurar a outra. Deve-se aceitar, ouçam bem. Sabem o motivo? Corremos o risco diário de encontrar a outra parte até mesmo no trajeto da padaria e encontra-se; mas um dia, sem grandes motivos, esta metade vai embora, como se houvesse encontrado sua outra metade que não eu, então o que sobra não é a minha metade e sim talvez um quarto dela. Ora crianças, é a mamãe quem diz, um dia aprenderão a matemática de viver.
É por isso: hoje como história de minha vida, como chuva que troveja para se anunciar, hoje resolvo e caio como que do céu e sem medo da queda me caio toda de um alto e fecho os olhos, apenas aceito, ultrapasso minha velocidade e chovo no chão [ era melhor mesmo eles continuarem a dormir ].
Apenas ouçam: não deve-se viver por 10 anos numa mesma estação. Existe o mais além, como as viagens que só vão. Tom, querido, quando se tem 9 anos a gente se assusta mesmo com as mamães, mas quando no outro dia se acorda: não lembramos de nada passado e vive-se tão bem! Tão bem que até não damos conta. Amanhã a engrenagem desta casa há de funcionar. [ abracei o pequeno ] Ana, você dorme e parece sonhar com tantas coisas! E de boca aberta parece estar com sede, parece sonhar com o copo de água da mamãe. Só do mamãe. Minha querida, um dia econtrará o seu, mas esta água, meus filhos, é quem me pagará os 10 anos. Insuportáveis; mas insuportável sou eu. Perdão se estou sendo dura demais.
Tom, Ana e Clara, vocês são tão pequeninos, mas valerá a pena: é preciso morrer a cada segundo vivido e esquecer. Eu queria um tempo único do insntante milesimal, do vivo-morto; só assim conseguiria ser plena e 10 anos não seriam nada porque não se contaria o tempo. Não haveria tempo hábil para se criar juízos de valor, não haveria a felicidade mas também a tristeza. Apenas seríamos; não haveria memória, somente o agora já morto e então transcenderíamos.
Desculpem a mamãe se incomodo o sono de vocês [ não se mexiam, mas sabia q de alguma forma eu estava sendo útil ].
A água, Ana, é para matar minha sede; regar esta alma seca em que me tornei. Ao bebê-la também dormirei, o mais secreto sono, ao lado de vocês. Boa noites queridos. Boas vidas [ bebi e chorei como daquela vez em que despenquei dos céus; mas agora o fim parecia nunca chegar e eu despencava como quem não acha o fim entre dois espelhos, me desfacelava toda, desintegrava em partes de mim, úmidas pelo choro eterno; mergulhava feliz no puro vento; uma euforia não de quem encontra um ponto final, mas as [. . .]

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Quando

Quando Ela se for (...)
Mas isso só quando.
Não serei MAIS,
Pero si ahora soy:
Entrego-Esfrego
Expurgo prazer pelos poros
E você voicifera "vemvinhovermelho!"
Vou na taça,
Dissolvido em g o t a s .
.
.
.
.
Você me bebe todo__________
Eu te tonto!
Vazo, me entorno pelo canto do lábio
Escorro __ pelos seus pêlos, peito, barriga, coxas. . .
Me seco lá no quente friccionar do teu corpo.

E X P A N D O

Mas isso,
Só antes de quando,
Mí corazón.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Como um suspiro

A mulher e o menino. Assim, frente a frente, filho e mãe, um do outro, por entre os dois uma taça esguia lambusada de chocolate. Esta fazia barulho, mais do que, ou era invenção dos meus ouvidos? Era assim, neste silêncio, só dos dois, que a mulher cuidava e mostrava seu amor ao pequeno.
Grandes olhos verdes para pequenas amêndoas pretas. E o silêncio...que só. Mas era assim, como se nada fosse preciso dizer que acontecia. Apenas o necessário.
Havia uma certa inquietação ali: ele por querer se agitar, ser como se é quando se é assim novo; ela, talvez, por querer um amadurecer dele, por querer dizer ao filho que é assim mesmo; somos dessa fôrma, forma: as vezes é bom outras nem sempre; que se sofre mesmo, mas que se sofre menos quando reconhecemos tudo assim, do jeito que se é e que ela, na verdade, não é assim tão infeliz quanto lhe pareça, mas que a felicidade dela é diferente, pois tem uma certa melancolia já que quase nunca contém o choro por coisas banais; que pode soar estranho, mas que ela morre a cada pouquinho de vida, cada suspiro e que no fundo tudo isso é de uma beleza infindável que até chora. Que ele devesse se acostumar com essas coisas da vida, a taça suja de chocolate, por exemplo, e os dois ali tão de olhos nos olhos, era, para ela, um dos momentos mais felizes de mundo e que se não estivesse tanta gente ali, até choraria. E que nem por isso era preciso dizer alguma palavra.
Tentava dizer ao pequeno, quem sabe, que viver é muito bonito, mas quando se é calmo para as coisas da vida, quando se aceita viver a vida; que ela, no que chamam de rotina de vida: de filho, de homem, de casa, de roupa, de comida, de filho, de homem, de cama, de mulher, era feliz e não que fosse um pouco contentar-se, mas que era o troféu do seu tão singelo sonho de vida.
O filho, ainda de olhar brilhante como se quisesse explicar tanta coisa àquela mãe, ouvia o silêncio do instante como se compreendesse os ensinamentos da mãe; mas, talvez, ainda sem jeito, quisesse dizer: Mamãe, eu sei. Obrigado, mas ainda não é a minha hora de compreender tanto a vida quanto a senhora. Mas obrigado, nunca esquecerei. Quem sabe não pedir a conta fosse um bom começo para se viver? Enquanto posso levarei as coisas mais levemente: cama, comida, banho, brincadeira, comida, risadas, mãe, pai, casa, vida, cama.
Os dois se olharam por mais um bom tempo. A conta veio sem que pedissem, como se o garçon adivinhasse o momento certo. Ela sorriu, pagou e com o cantinho da boca sujo de chocolate saiu com o menino, risonho por ver a mãe assim como que lambusada e tão doce agora. Andaram alguns metros até que a esquina os escondesse.