segunda-feira, outubro 30, 2006

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Folha branca invisível que me espera naquilo que ainda não existe e que logo quando nasce morre. Natimorto.
Ouçamos a música!!!
É a solução. Porque o mundo gira como um vinil. Tudo não passa de som. Mesmo no vácuo.
Procuro nos recortes, meus recortes, cortes, pedaços de mim, uma logicidade. Quero contar uma história. Disseram-me que ela já esta contada, mas insisto.
Ela é tão linda. Nua.
Hoje estou visivelmente impossível.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Envelope Lacrado

Recebi um segredo ontem pela noite. De um alguém que nem sequer posso contar, não somente porque eu não tenho conhecimento, mas porque segredo é segredo e assim me foi ensinado.
Um bilhete me foi avisado. Penso, desde de muito cedo é verdade, que o segredo deve ser muito segredo mesmo, daqueles que a mãe só contava pro vigário. Mas como é que pode?
Recebo um bilhete e nem o tenho em mãos! Recebo um sentimento e nem bem sei seu genitor!
E agora como durmo? Não posso guardar algo que não saiba. Todos sabemos que a mulher engravida e lá dentro há um bebê.
O bilhete me atordoa.
Suba no ponto mais alto dessa cidade e grite seu segredo, escreva tudo em uma folha e após confeccionar um belo avião de papel lance-o aos ventos; lhe garanto: dormirei melhor.
Anuncio no abismo então, o amor que nos é escondido a cada bilhete ocultado-avisado.

segunda-feira, outubro 09, 2006

___Choro profundo___


Desculpa, eu chorar. Eu chorar assim tão invasivamente, olha o que eu estou te impondo!, meu Deus e eu nem sei de onde mesmo que viestes, eu não sei o que carregas contigo, das tuas angústias, do que se trata esse vaso de flores rutilantes em teus braços.
Sei que não existe um culpado e que não tenho o domínio.
É que eu preciso. Ainda não me conheces bem, e de certo que nunca irá, mas tentarei te acalmar dizendo que a gente acostuma-se com tudo. Mas sinto que comigo é diferente. Eu choro só de imaginar, de ver, há vezes em que um sopro mais gelado me deixa em prantos. Não sei o que é isso que está em mim que não seguro. Às vezes apenas acordar é o suficiente para meus olhos se afogarem num choro compriiiido e baixinho. Quase sem som.
Mas olha eu, dizendo essas coisas. Eu te assustei... é como uma bola de neve sabe, não, eu nunca vi neve na minha vida. Já até cheguei a duvidar que neve realmente existisse... Se me calo eu choro mais, preciso ir dizendo aos montes essas coisas que vão saindo assim, às vezes um pouco estranhas outras até mesmo convenientes mas em todos os casos sem muito controle meu porque nessas horas desconheço os significado de controle e de tudo e pra te dizer o bem da verdade me desculpe. Pareço uma folha seca. Calma, eu vou respirar e ficarei em silencio____________
Eu queria chorar todo choro que existe no mundo de uma vez só.
O choro ninguém explica. Quem nunca ouviu o barulho indecente de um ser que chorou. O choro é a voz do inconsciente. Choro é desespero. Contração. De onde vem o choro? O choro é a língua de Deus, a salvação. No fim, se a Torre de Babel tivesse sido construída, veriam que todos, sem exceção, chorariam e se entenderiam mesmo os das nacionalidades mais distintas. Deus virá nos salvar no exato momento em que todos nós chorarmos ao mesmo tempo; não está longe. Todos chorariam, o mundo entraria em contração e então talvez um novo Big-Bang surgisse, Deus choveria junto e inundaria o mundo por 40 anos.
Eu preciso chorar todo o choro do mundo de uma só vez.
Eu caí na armadilha. É sabido que nunca se deve começar qualquer coisa, não existe volta. O segundo é o que basta para se estar preso a toda eternidade. Meu erro foi ter chorado uma primeira vez. Quem ensina o choro? Não... Querido, choro não se ensina. Choro sai. Foi um susto tão grande sentir o choro: aquilo que saindo de mim me invadia toda, me transbordava de mim mesma. Eu chorei por quê? Chora-se por tanta coisa e eu nem sei. Não devia ter lhe dirigido sequer um oi, sequer devia ter pensado em lhe construir, em imaginar, sonhar é um erro. Agora estamos aqui presos a algo que nunca existiu; já até criamos uma relação, talvez até apelidos. Já temos memória: um do outro. E você vai chegar em casa e contar à sua família que durante o seu dia sufocante se deparou com uma mulher que sobre ti despejou todo o peso do que é um dia, pela primeira vez, ter chorado. E eu chegarei em casa com você na minha cabeça e não direi nada a ninguém porque ninguém...(choro profundo).

terça-feira, outubro 03, 2006

Partida-Chegada

Sou uma corrente de ar e deslizo por-entre-sobre tudo.
Minha vontade é infinita;
Sou as estradas invisíveis dos aviões.
Minha força é atômica e desenho no espaço aberto sem deixar escrituras
Só podem me sentir, mas se ver é um sentido por que não me vêem?
Minha cor é não-colorido, mas tenho coração.
Se anoitecer, sou tão rápido que fujo
Meu legado é não ter intenção.
Será? Até finjo me acreditar...Preenchido de uma paz que inunda
Meu quarto novo.
Sou solto demais, bóio numa gelatina prazerosa e amoleço as paredes [com o]
Movimento natural da respiração.
Sou o ar comprimido da contração-dilatação, diafragma do universo.
Me incrusto nas vias cimentais, sentimentais, da estrutura forte que [chamamos “concreto”]
Sumo
Misturo
Saio
Medito
Sigo, pois minha vontade é infinita
Meu ciclo é infindável
Sou as estradas invisíveis nos céus dos aviões, e
Meu coração é
Seu.