segunda-feira, dezembro 27, 2010

tem que deixar a janela aberta, pelo menos um pouco, assim, uma gretinha já está bom. Mesmo nos dias de chuva.
é que é muito perigoso dormir assim com o quarto fechado, se tiver planta então...você pode morrer, morrer de sufoco, sufocado. Quando a gente dorme a cabeça dá vasão aos sonhos, e sonho é tudo aquilo que a gente não tem coragem nunca de fazer, e também, sonho é pra ganhar a imensidão do céu,  pra ir pra bem longe mesmo, porque é tão absurdo que se fosse verdade ainda sim seria mentira
lá em camaçari teve um homem que morreu sufocado pelos sonhos, a greta na janela é pra dar vasão a eles.
De noite, quando a gente tá descansando, tá bem desprevinido os sonhos crescem de uma tal forma, que se bobear mata, se a gente vive muito ele, aí ó, não tem jeito, a gente passa pro lado de lá, pro lado dos sonhos.

Ah, e as plantas, é que planta também respira, mas não sonha, e pode ser dela roubar os sonhos da gente, aí é melhor que morrer de tanto sonhar, mas muito pior é viver na dureza da cabeça e nunca mais sonhar

nunca sonhar
nunca sonhar
nunsonhar
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segunda-feira, novembro 08, 2010

essa legião de mortos, viver está encerrado enquanto se acredita

me acerco, uma individualidade, forço a penetrar naquilo que não logro, onde não é meu, porque meu não há, não houve, viver está fadado a crer e Eu não cri

fingi, nesses mortos, forjei vê-los, com eles convivi, conversei, comemoramos, confraternizamos datas e fotografias, tive meus filhos, viemos ao hoje, ao agora
e continuamos
ao agora
agora
a este agora
agora

a fresta da minha alma sopra portas esquecidas entreabertas
as palavras estão muito velhas

quem poda a vida
quem pode a vida

Eu limpo essa cas(c)a para que ela re-produza excrementos, por e para isso eu me alimento, eu me banho, eu te beijo

Tu, eu te beijo. Eu tu beijo agora, para que esteja claro, há uma legião de mortos à frente

eu tu beijo em silêncio, sem as palavras cansadas dos séculos, velhas
tu ainda me lês, com essas palavras podres na boca, não menos apodrecida
tu que me tens agora, respira firme comigo
eu tubeijo para que tubeijar possa ser, talvez
um estilhaço da janela quebrada
o refúgio dos viventes

eu tubeijo a cada manhã como quem crê, como recolho meias sujas pelo chão, aceio os objetos dispostos, saio a caminhar, com a fidelidade do tempo, com a certeza desses homens que crêem que
vivos estamos

tubeijo, recolho as meias, deito meu corpo na cama como deito o resto da casa na lixeira, a zelar por palavras mais vivas, por algum sentido, tubeijo

e grito à voz das palavras

nesta  casa  há dança
nesta  casa a dança
nesta casadança
acasadança
casadança


sexta-feira, outubro 15, 2010

Por la carretera




 Me entrego a viver

Passam crianças
Me sorriem gentes
Corre a água

Enquanto sou olhos,
intacto, festejam
encontros por la
Carretera
Atrás das câmeras
lentas dos rostos
gritam os ossos
escondidos, forçando a
pele plena de saudades



Por que me beijam?
E por que eu os beijo?
Minha boca seca como
se ali estivera uma rocha
da carretera onde
pisam há tempos com
seus pés envelhecidos
despontam os ossos
aparecidos


Vejo que vivem
Com que me quedo yo?
Minhas mãos endurecidas
forçando um papel,
uma carretera.

sexta-feira, setembro 10, 2010

trouxe as trouxas embrulhadas
silenciosamente as deposito
sobre o cimento seco da sala

ouço os gritos da rua
olho lento o espelho
observo tudo que a mim se dirige

em silêncio magistral me recolho
o sangue pontua nas minhas artérias
como se escrevesse

em algum lugar

sei que mexem no meu sexo de ser

e, depois, com muita dificuldade
tento me movimentar
trouxe as trouxas embrulhadas

quinta-feira, setembro 09, 2010

domingo, julho 18, 2010

TROTO a pequenas mãos
um amor sem limites
a saber a diferença
da vida vida e
a escrita viva

e porque o fungo
escreve a mancha
bebo a sujar o virol
o papelençol que guarda
o risco do teu corpo nu