segunda-feira, novembro 08, 2010

essa legião de mortos, viver está encerrado enquanto se acredita

me acerco, uma individualidade, forço a penetrar naquilo que não logro, onde não é meu, porque meu não há, não houve, viver está fadado a crer e Eu não cri

fingi, nesses mortos, forjei vê-los, com eles convivi, conversei, comemoramos, confraternizamos datas e fotografias, tive meus filhos, viemos ao hoje, ao agora
e continuamos
ao agora
agora
a este agora
agora

a fresta da minha alma sopra portas esquecidas entreabertas
as palavras estão muito velhas

quem poda a vida
quem pode a vida

Eu limpo essa cas(c)a para que ela re-produza excrementos, por e para isso eu me alimento, eu me banho, eu te beijo

Tu, eu te beijo. Eu tu beijo agora, para que esteja claro, há uma legião de mortos à frente

eu tu beijo em silêncio, sem as palavras cansadas dos séculos, velhas
tu ainda me lês, com essas palavras podres na boca, não menos apodrecida
tu que me tens agora, respira firme comigo
eu tubeijo para que tubeijar possa ser, talvez
um estilhaço da janela quebrada
o refúgio dos viventes

eu tubeijo a cada manhã como quem crê, como recolho meias sujas pelo chão, aceio os objetos dispostos, saio a caminhar, com a fidelidade do tempo, com a certeza desses homens que crêem que
vivos estamos

tubeijo, recolho as meias, deito meu corpo na cama como deito o resto da casa na lixeira, a zelar por palavras mais vivas, por algum sentido, tubeijo

e grito à voz das palavras

nesta  casa  há dança
nesta  casa a dança
nesta casadança
acasadança
casadança


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