domingo, janeiro 09, 2011

a ficção entre a tesoura e
meus olhos impede que eu ande

o carinho fino pelas mãos da Angústia
é meu refúgio na cicatriz da noite

o peito estriado [da mãe] me força
a escolher um caminho do rasgo na pele

tiro da boca uma lesma cascuda que não se dissolve
nunca se dissolverá
tiro dos braços, das fendas do corpo
tiro da mão feroz
tiro do prato a cartilagem da sobra

tiro você
ah, tiro você
há tiro, você

voam muitos insetos
um deles quem mata
é você
que mato

"as ficções", comentaram rindo, em zomba


por que estas costas infinita?
para que eu caia sem fim cortando
o ar com essas
tesouras desafio

por isso
há ficção entre meus olhos e a lâmina
e você ainda me vem falar de realidade!

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