Vida é mesmo coisa muito frágil. Eu já sabia. Sempre soube. Os momentos também. Já o corpo, a matéria viva-quente, a carne inconsciente, esta sim é que é forte; luta sem saber a causa, tenta manter-se viva a qualquer custo. No decorrer do dia, por exemplo...onde os momentos são quebrados a cada instante... Espero o ônibus, tem aquele sol característico, o pensamente um pouco distante, uma certa urgência de não sei ao certo...tudo bastante normal, mas aí ouço a batida, vejo o menino rodar no ar de meio-dia e quarenta e cair torto, cheio de sangue, quase que morto. O susto, o meu controle, o telefonema, as pessoas chegando, os comentários, o desespero, o tempo escorrendo pelos poros, a urgência, o corpo forte, mas a vida frágil. O meu choro.
O meu dia acabado não é nada, as preocupações tornam-se até vergonhosas frente ao atropelamento. Nunca vou me esquecer do corpo, um corpinho de 10 ou 11 anos, ali contraindo-se todo, tentando se reorganizar sem saber a causa, lutando.
Sempre soube da fragilidade da vida e dos momentos. Meus almoços em família por exemplo. Foram raras as vezes em que a garganta não fechava e descia uma forte vontade de chorar. Certa vez, sentindo que eu não daria conta de segurar, comecei a dizer algo, contei uma piada, para despistar. Na metade dela estava eu desabado em lágrimas. Ninguém entendeu. As pessoas em geral não compreendem. Almoçar em família para mim, ainda mais se for em silêncio, é muito difícil. Frágil momento apenas. Não se pode explicar isso, nem mesmo o que leva um jovem ter de ser atropelado antes do almoço. Talvez a comida daquele dia estivesse intoxicada. Vai saber o que é pior, não é?
Só sei que vida é mesmo coisa muito frágil.
6 comentários:
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(o silêncio é tudo o que posso dizer)
(imagens:
http://www.flickr.com/photos/mario_angelo/139588992/
http://www.flickr.com/photos/mario_angelo/140086023/ )
forte abraço e um beijão
vc viu isso mesmo, moço??? credo...
nao sei se eu aguentaria...
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eu me sinto a mais fragil das pessoas...
nao entendo sua situaçao em almoços em familia, prefiro nao julgar... meu pai tem 9 irmaos, e isso jah diz tudo neh...
mas seja lah o q for... bom, sei lah o que dizer...
e passa no meu blog, seu moço, sem q eu precise passar no orkut pra lembrar!!! rss
talvez essas coisas aconteçam exatamente pra nos lembrar de que estamos vivos. Como no Pessoas Invisíveis. Talvez pudesse ser de uma forma menos dolorosa, mas quem sabe assim não teria iqual a vida... por que esta que escapou dos poros do garoto, ainda continua gritando dentro das suas veias, fervendo dentro do seu corpo, tentando gritar seu nome pra ver se vc se lembra dela. E te pegunto, depois de tudo, o que faremos por aquele menino? Ñós, que estamos aqui? O que faremos por nós... Talvez a dor seja até muito bonita, exatamente por que dói demais. A vida começa com dor... no ventre rasgado da mãe. No primeiro inflar do nosso murcho pulmão... as víceras ardem. Estamos vivos.
"...o tempo escorrendo pelos poros..."
"...sentindo que eu não daria conta de segurar..."
"Frágil momento apenas."
Nçao me canso de admirar sua arte amigo.
Atropelamentos e almoços em família (e silêncio) realmente combinam muito. Mas só em contruções tão delicadas e coerentes como essa.
As viceras nunca me tocaram tanto como em quando leio seus textos.
Abraços
Oi, vc nao me conhece, mas mesmo assim achei q seria legal vc saber que uma estranha andou lendo seu blog... e que achou o máximo!!!
Parabéns, vc escreve mto bem e parece ter mto talento!
beijos de uma fã!
já disseram uma vez: viver é muito perigoso...
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