quarta-feira, setembro 06, 2006

____Procuro o quê?____

Meus pés amputados. Os meus cabelos tortos. Procuro por entre as mãos emaranhadas de fios soltos de cabelos. Procuro o quê? O que busco não existe. E meus cabelos só me caem. Soltam pelos dias infinitos sem razão. Porque não há razão. Nunca houve. Na essência da coisa não existe razão. O motivo nos foi escondido. A salvação é não encontrá-lo. Mas procuro de todas as formas. Minha última fixação é por cabelos e árvores. Ando tramando não-sei-o-que com as árvores. Elas já me perceberam. Eu me percebi. Nos meus trajetos diários confisco cada árvore da rua, classifico, estudo suas folhas, escolho um dia do ano, tento analisá-las, guardo as sementes, faço um projeto. Nunca me interessei tanto pelas sementes das árvores. Somente das árvores certas, já existem imitações e seria um erro fatal gastar o tempo infindável com as não-árvores. Para tudo existe um tempo útil. Eu tenho um tempo, o tempo que me é dado pelo cair dos cabelos. O tempo é a metáfora. A semente que é o tempo. Essas sementes que tenho aprisionado. Elas me olham gritando. Ditando-me o tempo. Há nas sementes a urgência. Em todas, mas nem todas___
Busco fora de mim o que não tem direção. Já a semente tem direção, ela cai reta como um fio de cabelo vai ao chão. O cabelo é metáfora: as folhas são os cabelos. As folhas me ditam o tempo. Folha é a semente evoluída. Eu procuro a evolução. Tenho o tempo cronometrado como o das árvores. As folhas que caem entre as mãos emaranhadas. As árvores também procuram. Eu procuro o quê meu Deus? Diga seu caminho árvore, a saída é te seguir. Minha cabeça está careca. O meu mapa se perdeu. Eu me.
Os meus projetos____minha soberania. Ter as sementes em mãos me torna pronto. Emancipo da questão, é tudo que um ser humano por almejar [ e as árvores já me sabem ]. De posse das sementes eu me torno pai e mãe, eu sou o dom da criação, eu sou Deus___eu seria mais que Deus se___se deus fosse___Eu é que sou. Planto as sementes, posso executá-las ainda proto-seres e ver o fio da vida, onde as respostas escondidas estão. Descubro puxando a frágil proto-planta da terra e expondo sua ainda proto-raiz à morte. Por sobre a mesa infértil eu deixo a proto-vida agonizar. Eu crio e descrio. Eu procuro o quê?
Todo o resto é metáfora, todo texto, a raiz é a metáfora, todo o resto. A salvação é a metáfora, é a raiz [ _____ e meus pés amputados ______ ]

5 comentários:

Hen !? disse...

Me..tá..fora de questão deixar de terminar de ler seus textos. Mas por este já desejo comentar. Que força tem o papel, que peso têm as imagens, mesmo quando o primeiro é virtual e o segundo feito de palavras.

Parabéns.

Anônimo disse...

Olá Assis.
Muito bacana sua forma de extravar seus pensamentos! O ludismo, as conotações, as emoções mescladas... Parabéns por fazer do espaço virtual algo tão interessante!
Abraços,

bla disse...

não sei o que você procura.

também não sei o que é que eu procuro...

Carol Godoi disse...

Olá, participei de uma matéria no EM sobre blogs e fiquei curiosa em ler sobre o seu. Gostei! Abs, e te espero lá no meu cantinho...

Anônimo disse...

na verdade, eu só queria agradecer por você ter escrito 'para se morrer no meio fio'. é, só, só isso mesmo.