Talvez devesse morrer. É difícil. Toda saída sempre fora escrever um romance. Mas um romance de que?
A música solta branca invadia a casa que tão pequena não lhe cabia sequer os sentimentos.
Só isso me basta. Um homem para ter dignidade: um trabalho, mesmo que sujo ou mal pago, um quarto onde possa criar e descriar, e um radio, mesmo que seja a pilha. De certo que dos três eu tenho todos.
Então já é o fim. Por onde se começa a andar?
Olhou para o lado no meio da madrugada. A cama suada. Tinha ouvido barulhos das chaves abrindo-lhe as portas. Imaginou ser as portas de casa e então seria um assalto? Não havia mais ninguém que as possuísse, as chaves. Fraquejou porque teve medo e não se levantou. Deixou por segundos o perigo correr e crescer pelos corredores da imaginação. A porta do quarto estava aberta. Então teria ele medo ou coragem? Atordoado, deixou o curso correr livre. o máximo seria morrer.
Olhou para o lado no meio da madrugada e não viu o corpo ao lado. Remexeu.
Eu percebi ali que poderia ter sido um sonho. Mas quando olhei, ele, havia saído de perto. Por pequeno tempo me vi só, ameaçado pelo sonho que quis enfrentar. Mas pensei que poderia ter se levantado para uma água e por isso o barulho das chaves nas portas que se seguiam até a cozinha, logo tudo estava bem. tudo fazia sentido.
Queria ocultar as informações de mim mesmo. Não por mistério. Por não dar conta de tê-las, seja de inveja ou medo. Talvez eu nunca deixe um sonho ganhar força pela madrugada.
Como que dá nome as coisas?
Na cama suada estava o outro entrecoberto. O som de uma chave é amedrontador.
Lembrei-me de minha mãe dizendo que um dia ouviu pela manhã o barulho do chaveiro de meu pai e foi só tempo de dizer: “já tem pão, sobrou de ontem”. Nunca mais. Não se sabe. Mas ali apalpei aquele corpo quente como se fosse da primeira vez.
Mas quando se acorda a mente está limpa. Tenho medo de escrever. Novamente a música cinza cresce no quarto e me agita. O sol que lá de fora já esquenta. Sempre quis escrever sobre mim. Dos momentos que me tomam a consciência, mas os perco com facilidade. Já não sei da ordem e me torno inverossímil. Dia de gente comum é trabalho. Despeço-me com a certeza de encontrar a casa vazia na noite. Sempre fui assim. Assim sempre é. Um trabalho sujo é o que tenho. Um descanso da existência.
Escrever é música. Eu quero viver numa escrita melódica infinita e leve. A música pode dar medo mas ela não tem medo das chaves ou se estará só quando chegar em casa.
Tenho um rádio velho, mas ele toca discos. Ainda não quis nada melhor porque ele me basta. Saio de casa e sigo direto minha rua, atravesso 3 sinais e torno a esquerda, mais duas ruas e chego na empresa de tecidos. Trabalho de “segurança” até cindo da tarde quando termina o expediente. Segurança é o nome que dão, mas é porteiro.Volto. Um banho, uma comida, uma ligação. Tenho um disco clássico. De sonatas, me orgulho de ter um disco desses de sonatas. Meu amigo diz que um dia o disco fura porque eu ponho todos os dias nas mesmas músicas. Um dia eu vou escrever um livro. Mas tenho medo. Não sou de dar às coisas seus nomes, talvez por medo ou inveja que elas tenham lá suas particularidades ou vergonha.
Não tenho paciência suficiente. Por isso acabo matando as histórias. Mesmo as que já nascem mortas. Faço, quando muito, duas páginas. Tenho medo.
É certo que eu possa transpor meus medos a um personagem; sei que tenho esse direito e o fiz. Qual é o direito de um personagem? Ele nunca nasce. Eu deixo sempre o fio se escapar. Como se a parede lodenta lisa. Mas um romance de que?
Naquela noite voltei como de hábito. A casa estava vazia e pus meu disco de sonatas tocar. Resolvi escrever, mas só me vinha falar de um escritor com medo. E não existe nada mais terrível que um escritor com medo. A gente não entende nada. Ele se perde e assim também seus leitores.
Pensei que preciso me apegar a coisas mais fáceis: como a dor de chegar em casa e encontrá-la vazia; como as chaves que abriram não as portas de casa, mas as outras. Talvez assim eu pudesse entender aquilo que escrevia e então me viesse a cabeça uma solução menos dolorida para se criar histórias e viver um pouco delas a cada vez que lidas.
Olho para minha casa nesta noite. Na minha cama está entrecoberto um corpo quente que me alivia, por que só assim sei que era um sonho e que meus personagens são imaginários. No contato da pele. Para o contato da pele ponho uma sonata. Mas a música tem o poder de me fazer perder, como se a parede lodenta lisa. Os personagens revivem dentro de mim. Talvez devessem morrer.
A música solta branca invadia a casa que tão pequena não lhe cabia sequer os sentimentos.
Só isso me basta. Um homem para ter dignidade: um trabalho, mesmo que sujo ou mal pago, um quarto onde possa criar e descriar, e um radio, mesmo que seja a pilha. De certo que dos três eu tenho todos.
Então já é o fim. Por onde se começa a andar?
Olhou para o lado no meio da madrugada. A cama suada. Tinha ouvido barulhos das chaves abrindo-lhe as portas. Imaginou ser as portas de casa e então seria um assalto? Não havia mais ninguém que as possuísse, as chaves. Fraquejou porque teve medo e não se levantou. Deixou por segundos o perigo correr e crescer pelos corredores da imaginação. A porta do quarto estava aberta. Então teria ele medo ou coragem? Atordoado, deixou o curso correr livre. o máximo seria morrer.
Olhou para o lado no meio da madrugada e não viu o corpo ao lado. Remexeu.
Eu percebi ali que poderia ter sido um sonho. Mas quando olhei, ele, havia saído de perto. Por pequeno tempo me vi só, ameaçado pelo sonho que quis enfrentar. Mas pensei que poderia ter se levantado para uma água e por isso o barulho das chaves nas portas que se seguiam até a cozinha, logo tudo estava bem. tudo fazia sentido.
Queria ocultar as informações de mim mesmo. Não por mistério. Por não dar conta de tê-las, seja de inveja ou medo. Talvez eu nunca deixe um sonho ganhar força pela madrugada.
Como que dá nome as coisas?
Na cama suada estava o outro entrecoberto. O som de uma chave é amedrontador.
Lembrei-me de minha mãe dizendo que um dia ouviu pela manhã o barulho do chaveiro de meu pai e foi só tempo de dizer: “já tem pão, sobrou de ontem”. Nunca mais. Não se sabe. Mas ali apalpei aquele corpo quente como se fosse da primeira vez.
Mas quando se acorda a mente está limpa. Tenho medo de escrever. Novamente a música cinza cresce no quarto e me agita. O sol que lá de fora já esquenta. Sempre quis escrever sobre mim. Dos momentos que me tomam a consciência, mas os perco com facilidade. Já não sei da ordem e me torno inverossímil. Dia de gente comum é trabalho. Despeço-me com a certeza de encontrar a casa vazia na noite. Sempre fui assim. Assim sempre é. Um trabalho sujo é o que tenho. Um descanso da existência.
Escrever é música. Eu quero viver numa escrita melódica infinita e leve. A música pode dar medo mas ela não tem medo das chaves ou se estará só quando chegar em casa.
Tenho um rádio velho, mas ele toca discos. Ainda não quis nada melhor porque ele me basta. Saio de casa e sigo direto minha rua, atravesso 3 sinais e torno a esquerda, mais duas ruas e chego na empresa de tecidos. Trabalho de “segurança” até cindo da tarde quando termina o expediente. Segurança é o nome que dão, mas é porteiro.Volto. Um banho, uma comida, uma ligação. Tenho um disco clássico. De sonatas, me orgulho de ter um disco desses de sonatas. Meu amigo diz que um dia o disco fura porque eu ponho todos os dias nas mesmas músicas. Um dia eu vou escrever um livro. Mas tenho medo. Não sou de dar às coisas seus nomes, talvez por medo ou inveja que elas tenham lá suas particularidades ou vergonha.
Não tenho paciência suficiente. Por isso acabo matando as histórias. Mesmo as que já nascem mortas. Faço, quando muito, duas páginas. Tenho medo.
É certo que eu possa transpor meus medos a um personagem; sei que tenho esse direito e o fiz. Qual é o direito de um personagem? Ele nunca nasce. Eu deixo sempre o fio se escapar. Como se a parede lodenta lisa. Mas um romance de que?
Naquela noite voltei como de hábito. A casa estava vazia e pus meu disco de sonatas tocar. Resolvi escrever, mas só me vinha falar de um escritor com medo. E não existe nada mais terrível que um escritor com medo. A gente não entende nada. Ele se perde e assim também seus leitores.
Pensei que preciso me apegar a coisas mais fáceis: como a dor de chegar em casa e encontrá-la vazia; como as chaves que abriram não as portas de casa, mas as outras. Talvez assim eu pudesse entender aquilo que escrevia e então me viesse a cabeça uma solução menos dolorida para se criar histórias e viver um pouco delas a cada vez que lidas.
Olho para minha casa nesta noite. Na minha cama está entrecoberto um corpo quente que me alivia, por que só assim sei que era um sonho e que meus personagens são imaginários. No contato da pele. Para o contato da pele ponho uma sonata. Mas a música tem o poder de me fazer perder, como se a parede lodenta lisa. Os personagens revivem dentro de mim. Talvez devessem morrer.