domingo, janeiro 08, 2006

...Tão...

É que eu achei tão bonito...Ele vinha com um vaso de planta verde nas mãos. Até tentava esconder, mas o seu desajeito. O meu desajeito
É que eu... A música simples feita a partir de um poema que foi feito a partir de idéias que vieram de palavras. E ela disponível pra mim. Ali no sofá, com olhar atencioso e pés inquietos esperando de mim não sei o que. E meus olhos cada vez mais cheios de água e meu olhar, agora, disfarçado querendo chorar.
Tão bonito...As ruas cheias de gente com suas roupas de frio. O meu nariz gelado, o passo apertado e o aperto dos olhos para que as lágrimas não caíssem ali, no meio de tudo aquilo. E pra que não caiam aqui, neste exato momento.Mas me lembro de dias diferentes em que exibia, sem preocupações, o rosto molhado, o inchaço dos olhos para qualquer um.
Eu achei tão... O horário marcado, ele chamando o garçom e pedindo mais uma porção de torradas, o silêncio, a mão no meu rosto e o susto, mas era apenas um cílio que acabara de se tornar livre. E a felicidade que tudo isso me proporcionava.
É que eu achei tão bonito...Andar a cidade inteira a pé só para rever você e me reencontrar. Ouvir seus medos e ver que não sou tão tolo quanto pensava ou até mesmo ficar calado porque sou o mais tolo de todos. Pensar que se existisse um concurso de tolices eu ganharia o troféu em primeiro lugar. Imaginar minha foto em todas revistas e jornais e uma roupinha ridícula, talvez até uma faixa ou uma coroa e eu perdendo toda minha privacidade, pois me tornara o campeão, o símbolo mundial de tolices. E você indo embora porque agora as pessoas não largavam do meu pé e eu no fundo sabendo que toda minha tolice era verdadeira
É que... Ele estalando os dedos para que eu acordasse de uma tolice, ou mesmo levantando os braços tentando me provocar para mais uma jornada de cócegas. Elas rindo de mim e tentando me enganar, mas eu sabia de tudo e fingia todo aquele momento. A outra levantando-se do sofá e também segurando as lágrimas nos olhos, mas falando alto que a carne estava sem sal e não havia ficado tão boa quanto àquela do aniversário passado. O tempo demorado dentro da cozinha, fingindo buscar alguma coisa na dispensa e eu, sem coragem de ir atrás, tentando chorar tudo que podia enquanto ela não voltava.É que eu achei tão bonito...Chorar não por tristezas, mas por essa felicidade calma, que me deixa meio mole, na qual estou mergulhado.Ver ela trocar o sal por açúcar e estragar a carne que estava deliciosa ao meu paladar. Ouvir a mãe dela trocando meu nome e sentir o constrangimento, já que ela sabe muito bem dos desprazeres da velhice. Ele levando um susto e ficando vermelho só porque eu entrei no quarto uns segundos antecipado e vi que a primeira peça de roupa que ele põe é a meia ( esquerda ).
É que...tão bonito... Passar o tempo dizendo que tudo isso é vontade de.

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