domingo, janeiro 08, 2006

Segredos

então te conto as minhas intimidades. Os meus mais profundos segredos. Aqueles que quando chego a dizer, me fazem pensar que dentro de mim há um outro alguém, pois EU não seria capaz de guardar tais coisas aqui dentro. Tudo. Falo tudo e você se faz de um jeito que. Que me conforta. E sai andando em volta da minha cadeira dizendo pensamentos de grandes filósofos e até elogia e me compara com eles. Eu ali, nu, quase do avesso e mesmo assim ainda insisto. Você vem para me esquentar com as mãos, mas elas estão geladas e finjo. Perdi o domínio. Está em suas mãos. Geladas. Eu procurava entender o que tanto segurava em seus bolsos e agora, sem intimidades, já do avesso e gelado como eram suas mãos, arrisco até dizer que era o relógio que pesava nas calças. Este que marcaria o fim premeditado. Nesta tarde procuro meus óculos de lentes cor escarlate. Tento fingir como daquela vez. Assim como se fosse literatura ou mesmo artigos de perfumaria, quase sempre dispostos na prateleira da estante. Estante marrom com três gavetas e nosso retrato. E uma caixa velha onde guardo parte dos meus segredos. Mas já não vale de nada porque então te contei as minhas intimidades e a caixa já é lixo, perdeu a função. Assim como eu.As frases dos filósofos, as mãos não quentes, a cadeira rodeada, o desnudamento, a minha inútil sensação de importância, a vã segurança de um dia voltar a ter segredos só para poder contá-los novamente a você e. Essas são coisas que, mesmo se soubesse o antigo futuro que é hoje, fariam eu voltar atrás e reviver todas as ilusões e desilusões só para meu deleite de estar ao seu lado.

Um comentário:

Anônimo disse...

sem comentários!!!

fantástico!!!