sexta-feira, dezembro 14, 2007

revivi
ainda molhada
é quando você desnuda minhas possibilidades
e vivo,
já sou mais feliz.
o poder de ser leve.

terça-feira, novembro 20, 2007

Fico no cimo das palavras.
que mãe é aquela ali parada?
há esperança na fotografia.
mas passa
ela sabe que passa.
Acolchoada de idades
o coração lhe explode
ficam as fotografias.
há esperança de um filho.
mas passa
ele sabe que passa.
A poltrona estática do dia esconde
meu dicionário memorialístico
Fixo no cimo do amor.

sexta-feira, novembro 16, 2007

É com este aboio que sigo.
Corre menino! que já é o terceiro ônibus que te passa e você aí.

Quando as nuvens da minha casa:
e pelas ruas nada,
e no meu quarto nem a mãe,
e os meus rios correm quentes,
quanta turbulência vermelha!

Sinto que hoje vai ter bolo de maçã.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Diário

Ó meu grande amor,
mando notícias de tristezas:
as pessoas andam se explodindo,
e parece que virou moda.
Cada dia é um que ganha o noticiário mais importante do país. E fico com medo. Já se vão quase 3 anos que não nos falamos. Por que? seria meu questionamento... as pessoas se explodem e a qualquer hora pode ser eu um desses estilhaços da perfumaria atômica; as pessoas lá de casa enlouqueceram, quero dizer: o resto daquelas que sobraram. Esta é a décima enésima carta que te escrevo; os correios foram sabotados pela ocupação e já faz tempo que não sei seu endereço. Internet só tem acesso os desgovernados do governo. Ontem teve cerimônia aqui na rua, caiu uma bomba na antiga casa de Ashraf. Sinto que estou ficando burro.

Fizemos um pacto na família, pode parecer estranho... não se faz mais amor entre os férteis, a gente não transa mais; que é pra não ter filhos. Mas meu filho está divido entre nossos corpos. Ah.

A cada clarão na cidade eu sinto que pode ser você, aí corro lá pra baixo e releio alguns escritos seus. Nessa confusão toda eu perdi sua única foto. Me dá pavor pensar que você pode sumir como fumaça memória. Sinto que estou ficando burro.
A mãe prostada num canto lendo aquele livro antigo... perguntei a ela pra que tanta dor e ela olhou pra mim paralisada. "Mãe", eu disse, "ter filhos dói"?
Mas a coitada tá louca.

A casa anda que é puro pó; e nem adianta limpeza. O pouco que sobrou da gente tenta se distrair ao longo longo longo longo do dia. O melhor é quando o corpo não suporta e dorme, mas é raro.
Tenho uma esperança: no dia em que for a nossa casa a que irá para os ares, todas minhas cartas cairão sobre a cidade. Se por aqui estiveres, ah!, se lembrará de mim. Mas se não, dois estilhaços irão se juntar e explodir em amor lá no céu. Amor, céu... Sinto que estou ficando burro.

Aqui é o centro de tudo e tudo está tão longe daqui.
Ó meu grande amor, quero escrever um livro de alegrias.

Bem menos

- Mãe, ter filhos dói?
- Menos, muito menos.

Uma vez eu vi o buraco pelo furo da visão.
E é bem menos.
No mundo não existem necessidades,
só tempo e construção,
os gritos, os gemido de prazer,
se prazer.
Conte com a superfície do corpo.
É muito menos, como
substituir as palavras por
objetos outros.

quarta-feira, outubro 24, 2007

pequenas confissões

É como no boxe,
Vivo sob a precisão de um soco.

Não tem erro.
o sono chega para todos
e lá terei meu respiro maternal
essa metade ancestral.

Pluie, tu peut pleurer sur moi?
Merci, t´est l´unique!
Et moi, laquelle que d´une forme ou d´autre aime et souffre mais aussi suis-je une petite rue qui n´a pas la fin.


A espiração.


Meu próprio traço. A inpiedade.

O calendário, meu auto-dia, meu auto-mês, essa via-expressa de amor.


e tudo mais

segunda-feira, outubro 22, 2007

sexta-feira, outubro 19, 2007

Os objetos não se limpam sozinhos
e numa velocidade lentíssima
sobrepõe-se o pó.
Como faço a cada respiro,
em cada explosão me torno
na sujeira mais ínfima
e é uma faxina estética!,
suas mãos detalhadas
neste escombro amontoado
em que me tornei.

De que tecidos são feitos meus mamilos?
Se esta pele se estendesse por
todo o corpo. Ah!

segunda-feira, outubro 15, 2007

A menina que se corrompe
chora.
Entra no seu quarto branco
liga uma câmera preparada,
chora.
essa mulher chora ao se ver
na televisão.
E num dia de festa
ela reúne todos na sala
como uma grande surpresa
exibe seu filme e
chora.

terça-feira, outubro 09, 2007

auto agradecimento

É pela experiência
que vivo o horror.
Encontro derivado de
todo o passado.
Descobrindo o cada
revelo-me. carrego.
Seja no meu multi-uso
no meu auto-estupro diário
nas pequenas mortes noturnas.
Eu quero sim palavras belas
Calma, não me culpo.
Inexata e insípida
como a minha chuva capilar
Desligado o dia mas
minha turbina transborda
amor.
E não me vale a imaginação
Quantos balões eu poderia ter enchido
com a minha respiração?
De onde virão minhas futuras?
É da experiência que vivo o horror.
Vivo minhas pausas.
__um expresso, por favor__

domingo, outubro 07, 2007

Numa brecha-beira.
foi no descuido, no vão de ar inútil
que me perdeste o amor.
dictando minhas vitórias,
o sustento essencial,
que descobri um
amorborda.
E não é fácil,
nem quero dizer que superei.
e sem mais pensar em ti
me volto a mim em dobro,
esse buraco.

e o que é a mentira?
Vamos, não é uma pressão,
é autopiedade.
Antes saber da imundice
humana e ir até ao fim.
Estou viva e escrevo.
Mas estou seca. Sempre fui
e o processo acelera.
Busco ao máximo o mínimo.
odeio as preposições, os conectivos, os "Ahs", os "Ohs"...
escrever torna-se difícil,
porque busco uma linha ininterrupta
porque dizer horrores me seria mais legítimo
porque fechar os olhos me seria a exatidão
traduzir o transtorno, minha quebra da comunicabilidade,
esse estilhaço de amor não é com letra.
É espaçocor, o submundo da criação.
porque morrer todo mundo sabe, mas ninguém entende,
ninguém entende.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Rápido
não existe tempo pra expressar sentimento
não pode.
livre tradução de amor
apaga apaga apaga
intensa produção solitária

Oi
Oi
quem é você?
E você?
Acabou.

Ela caiu no mercado carregando vasos de flor
acabara de viver intensamente
__depois como nunca antes__

eu vai passeio circo

( em branco )

__________Recordação visual
em LIBRAS.
voz do coração

domingo, setembro 30, 2007

Não tem jeito: a gente sempre dorme
volto à escrita
e eu que pensava dormir em sossego.
a ardência dos nomes
o resto da sobrevida de amor
minhas louças íntimas
empilhadas de dor
a soltura dessas dobradiças
oh! que frouxidão interna.
que sono dá não parar de pensar
qualquer coisa me chame,
estarei deitada sobre minha pele.
oh

sexta-feira, setembro 28, 2007

ligeiro

como se respira?
se eu fosse som do peito, ah!
minhas pedras doem meus pés
os cabelos crescem como se
como se
me chegassem aos postes.
corrente de ar os cabos de alta tensão
me venta, se eu fosse som do peito.

ligeiro pacto.

sexta-feira, setembro 14, 2007

O que se passa me é sempre futuro
troca de lugar
e o que isso representa?
Uma cama lisa tenra,
os almoços lá de casa
a dor paralítica de um quadro.
Mesmo um quadro imóvel que troca de lugar,
essa música repetidamente.

Minhas lembranças ainda acontecerão.

quarta-feira, setembro 12, 2007

interminável

Não te assuste
porque as folhas caem
porque eu não me assusto
quando me caem as folhas enfileiradas das costelas

domingo, agosto 26, 2007

Uma mulher certa vez perguntou ao seu marido:
"Por que me amarras todos os dias em teu punho?"
Ele disse: "para que não saibas o quão grande o mundo é. "
então tive de dizer a ele que eu sabia sim da grandeza da terra, e dos seus homens, e das suas guerras, e dos seus povos, e das diferenças, e dos possíveis certos grandes amores que a cada dia perdia por me querer estar ao teu lado.
Ele, assutado, quis me desatar das amarras, e disse: "Se já sabes tudo isso é porque não te deves estar presa a um homem. Triste é a confirmação da sabedoria. Vai. "
Eu, então, livre e perdida corri até o terreiro de nossa casa, também muito assustada, mas desejosa. Confusa como quando se solta passrinho criado em gaiola. O sol batia plenamente sobre a criação e sobre as árvores, num instante em que até o vento se quedou silencioso. Esperei, meio à espreita, certa de que ele viria bravo me resgatar. E nada. O caminho depois da porteira era sinuoso e comprido. E nada. Até que pude ouvir como um choro de um homem, coisa que jamais ouvira. O som dos animais e do vento reviveu. Era ele, chorando doído, talvez remuendo seus mistérios internos, ou mesmo já de dor de solidão; mas não solidão de minha parte, pois eu estava alí atrás da porta de madeira, no terreiro; devia de ser solidão de si mesmo, de sabedoria. Chorava como uma criança sufocada pela anca estreita da mãe. Meu coração então disparou, senti um troço no peito que nunca tinha sentido. Sabia que estava perdida e, chorando, atravessei a porteira da minha vida.

domingo, agosto 05, 2007

Para Arnaldo

Ela sempre dizia:
Escrevo porque não sei lançar flechas,
e mordia o lado esquerdo dos lábios.
Eu sempre dizia a ela:
Mas você pode ter filhos, folhas a mais
e a beijava no canto direito da boca
para que o sangue nâo me contaminasse.

quinta-feira, agosto 02, 2007

oh,
eu que me vi refletida nos olhos molhados de uma garota,
menina pequena mas sábia,
tenho que jurar a mim todos os dias tentar não decifrar aquele olhar
senão enlouqueço.
a pele das pálpebras vermelhas, vivas
a intimidade vermelha de um casal.
eu que sem teu amor volto a ser a menina de olhares perdidos
indecifrada no colo dos pais.
oh, se meus olhos agora te refletem,
te descrevem,
me soltam pluma no vendaval,
e me tiram de você.
Mas não aceite! Sou eu quem implora, mesmo sendo eu a desertora.
Me prenda logo, essa menina chorosa
e não deixe que eu morra,
escorra pelos olhos perdidos de menina pequena.

sexta-feira, julho 20, 2007

Clara quase clara

quase clara
sem vento algum
uns olhos gigantes para teu rosto
clara
jeito de quem sofrerá muito
mas clara
lendo um livro miúdo como o apertado coração
chorava manso
com aquelas palavras
claras
que a descortinavam
e o mundo
quase claro
que se perdia em seus cabelos
lisos
claros

quarta-feira, junho 20, 2007

Verdade

Com a casa interna vazia
hystérica
as mãos encharcadas de prazer
aos esganiços
ela envergonhou a família
na frente dos vizinhos.

quinta-feira, junho 14, 2007

Posição

Trocar de lugar é ranger os dentes como quando a chave da ignição. Uma duas três tentativas e intacto o espaço. Que é meu.

Morder uma flor é ranger. e o suco que escorre. ouvir uma nota contínua, outro dia vi um beija-flor semi morto e sobre minhas mãos seu coraçãosículo impulsionava__até que o peito inchasse um grão diar contínuo e fim.

Esqueci o que me trouxe a escrever e digo outras coisas para que não a espera.
A surpresa. Devo anotar minhas idéias: acho que lembro: uma fricção gostosa: um atravessar como quando a chave d´ignição: um preguiça d´utilizar as vogais ou sílabas.
Um langor.

O ponto zero da respiração me desperta curiosidade: é que o espaço intacto, mera questão d´ângulo.

De lugar.

quarta-feira, maio 09, 2007

domingo, março 18, 2007

Sempre esperei surda__agitadamente inquieta, sentada sobre as pernas da Angústia, embalada em seu colo. Esperando por ele_

Achei que deus fosse um animal superior, muito grande. Não entendia.
Constante a sensação de suspense, parecia que a qualquer minuto ele poderia arrombar nossa casa e sem pedir licença castigar a todos. Todos sem exceção, mesmo. Talvez deva-se a isto tanta devoção, tanta desculpa, culpa. Tanto esforço de minha mãe.
Nada, ainda nao vi deus
Deus nunca chegou, mas espero aninhada nos seios da Angústia
O que diria ele?
Não posso ouvir, mas se pudesse! Pode ser que também fosse surdo, ou mudo, ou cego, ou até mesmo que falasse numa língua muito estrangeira.

Venta muito.

Tenho os olhos abertos, mas cobertos, ando assustada. Uma velocidade! Oh!
Como correm da chuva essas pessoas. Gritos da correria.


Como eu gostaria de saber o segredo que sai desses aparelhos com fones para os ouvidos que as pessoas tanto escutam, todas elas! Todos os dias! O tempo todo! Será, enfim, a voz de Deus? E se então ele já houver me chamado?

Surda. Absurda. Surda.

a_b_solutamente_a_b_surda

Adormecida, acariciada pelas mão finas da Angústia

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Decisão

andar sobre o chão aberto de tristezas
sempre por volta das cinco da tarde
quando me lembro de quando era feliz
tento recordar o caminho.
Essa minha estrada que nao anda pra trás.
Como se acha o caminho de volta?
Eu queria estar seguro como quando era parte materna

sair significa caminhar dentro a angústia
voltar pode me ser fatal

"Vai, meu filho, para que a gente possa pegar a flor, temos que pisar na grama"

domingo, fevereiro 04, 2007

Rejunte

Pegue pedaços meus
Reorganize, vai!
Tente repor ponta a ponta

Rejunte cole
Recorte recheie de amor

Agora é polir!
Polir polir polir
Polir é a ação mais bonita que um verbo pode ter

Reponha, me vista
Me ponha a vista
Me venda à vista

Embrulhe, não chore!
Entregue o embrulho,
Embrulho de estômago,

Amor de passado
Passado ao outro
Estás livre da dor
Da dor de amor

A loja vazia
Sem nenhuma peça
A placa na porta:
“Emprega-se gente
De bom coração”

Aqui se faz gente
Juntando pedaços
Eu sofro, não minto
Mas só assim sinto
Que terei o perdão

Amor me desculpa
Nunca tive culpa
De ter só um dono
Ser preso no aço
Escravo da paixão.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

São pelos olhos mesmo que a gente chora?

olhos...

eu consigo ver a vida por uma realidade de câmera de cinema. mas também poderia estar estagnado, assim, em um plano só e então eu veria outras coisas nas mesmas coisas...
os olhos...

a toxina dos olhos escorre ardido. ardendo.
piano.
longo som de piano.
Mas é mesmo com os olhos?
como se chora em outra língua?
fico pensando que deve haver uma outra língua em que chorar seja menos dolorido; mas dolorido para quem? para os olhos...

prefiro nao me ver no espelho por esta tarde até que eu descubra.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

suco de mim

Eu quero um pouco de ilusão
“você precisa de amor”
Há!

É insuportavelmente intenso que preciso me esconder
Em alguma fresta da noite

Se tivesse uma música agora, um canto,
Eu choraria.
Para isso a ilusão.
“você precisa de amor”

Mas não dá, já me disse por vezes, a você também:
Cresce tanto por dentro a ilusão
Que a realidade entristece:
Não dá, pois o amor tem lá suas tristezas,
Não é a toa que a noite e o dia não se encontram,
Digo encontram mesmo, coexistem um ao lado do outro, penetrando ao outro,
Mas nem por isso deixam de insistir, dia após dia e noite após noite,
Um ciclo infindável de busca de ilusão de amor
e sofrem.
Será que você não teria um bocado de ilusão para me dar?
Eu juro que aceitaria na maior ilusão.
Só isso poderia me salvar
Há!

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Qual teu refùgio nas cicatrizes da noite?

Ha tempos nao via essa multidao de velhos
maltrapilhos e velhos
escorados em si mesmos e velhos
pelas pracas das madrugadas e velhos

Fui ser som nessas infindas "noches"
Vim ser o que, Alejandra?
Como è mesmo o nome?
Como è mesmo o nome?

Estes velhos sao os mesmos de antigamente? essas estrelas
encontro de poetas,
falta daquilo que me è cerne
falta de ar,
Pizarnik.

falta de som