terça-feira, dezembro 19, 2006

Forma

Eu queria tirar
Estar descalço. Não tendo ____ pisar. Preciso escrever de um lugar. Não exatamente estar nele, mas a partir dele.
Apartado de mim. Porque é difícil estar num lugar___ para mim só as notas longas do piano. A cadencia o embalo a melodia. Para mim o concreto ressoa_ressente. Basta o som invisível para os ouvidos de quem só sabe ver. Sentir é mais preciso, por isso tire dos meus pés apertados essas sandálias sujas

____Levo dias para escrever poucas palavras, prefiro ouvi-las____


Gosto quando fica grave. Essa melancolia rasga os papéis de parede do meu lar.
Será possível? Dizia minha mãe num descontrole emocional... será possível? Essa sua música que ninguém entende mofa os cômodos do nosso lar. Já não te suportamos mais. É o que mais doído pode sentir uma mãe. Mas você infiltra nossos corações_____
Segurei. Porque a música pesa mais. Mas essas sandálias, nunca as tirei dos pés.
Talvez, elas ---> o lugar. Mas se ao menos fossem som. Sinto que estou ficando cego e quando nada puder ver, serei música. Uma porção de letras diferentes combinadas traduzidas em ar_____

Vento_________Shuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

Vento, antes de ficar cego tu eras quem? Se eu tivesse tua coragem____
“Essa sua música embola meus cabelos brancos. Sai! Sai!! Sai!”
Sinto que poderia ser mais direto, mais leve, mas minha música é grave. Gosto quando fica grave porque meus sentimentos são revestidos de papel de parede. Ao longo disso tudo perceberás quando a pontuação for se esvaindo e os espaços ficarem como pausas melódicas e uma potência em forma de som que irá ventar em você será porque estou ficando cego me desfazendo em rasgos largos

Indecentes

Inaudíveis




Som



restarão minhas sandálias.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Palavras para a eternindade

Vai Matheus, vai.
Sempre ir.............

Abriu-se mais um silêncio em mim,
Mas você virou música...
.
.
.
Bonita presença
Que urgência! Vai.
A frente de todos nós. Vai.
Na dor de amor universal
tento sonhar um caminho eterno e sonoro.

Te ouço.

domingo, novembro 26, 2006

Um Romance

Talvez devesse morrer. É difícil. Toda saída sempre fora escrever um romance. Mas um romance de que?
A música solta branca invadia a casa que tão pequena não lhe cabia sequer os sentimentos.
Só isso me basta. Um homem para ter dignidade: um trabalho, mesmo que sujo ou mal pago, um quarto onde possa criar e descriar, e um radio, mesmo que seja a pilha. De certo que dos três eu tenho todos.
Então já é o fim. Por onde se começa a andar?
Olhou para o lado no meio da madrugada. A cama suada. Tinha ouvido barulhos das chaves abrindo-lhe as portas. Imaginou ser as portas de casa e então seria um assalto? Não havia mais ninguém que as possuísse, as chaves. Fraquejou porque teve medo e não se levantou. Deixou por segundos o perigo correr e crescer pelos corredores da imaginação. A porta do quarto estava aberta. Então teria ele medo ou coragem? Atordoado, deixou o curso correr livre. o máximo seria morrer.
Olhou para o lado no meio da madrugada e não viu o corpo ao lado. Remexeu.
Eu percebi ali que poderia ter sido um sonho. Mas quando olhei, ele, havia saído de perto. Por pequeno tempo me vi só, ameaçado pelo sonho que quis enfrentar. Mas pensei que poderia ter se levantado para uma água e por isso o barulho das chaves nas portas que se seguiam até a cozinha, logo tudo estava bem. tudo fazia sentido.

Queria ocultar as informações de mim mesmo. Não por mistério. Por não dar conta de tê-las, seja de inveja ou medo. Talvez eu nunca deixe um sonho ganhar força pela madrugada.
Como que dá nome as coisas?
Na cama suada estava o outro entrecoberto. O som de uma chave é amedrontador.

Lembrei-me de minha mãe dizendo que um dia ouviu pela manhã o barulho do chaveiro de meu pai e foi só tempo de dizer: “já tem pão, sobrou de ontem”. Nunca mais. Não se sabe. Mas ali apalpei aquele corpo quente como se fosse da primeira vez.

Mas quando se acorda a mente está limpa. Tenho medo de escrever. Novamente a música cinza cresce no quarto e me agita. O sol que lá de fora já esquenta. Sempre quis escrever sobre mim. Dos momentos que me tomam a consciência, mas os perco com facilidade. Já não sei da ordem e me torno inverossímil. Dia de gente comum é trabalho. Despeço-me com a certeza de encontrar a casa vazia na noite. Sempre fui assim. Assim sempre é. Um trabalho sujo é o que tenho. Um descanso da existência.
Escrever é música. Eu quero viver numa escrita melódica infinita e leve. A música pode dar medo mas ela não tem medo das chaves ou se estará só quando chegar em casa.

Tenho um rádio velho, mas ele toca discos. Ainda não quis nada melhor porque ele me basta. Saio de casa e sigo direto minha rua, atravesso 3 sinais e torno a esquerda, mais duas ruas e chego na empresa de tecidos. Trabalho de “segurança” até cindo da tarde quando termina o expediente. Segurança é o nome que dão, mas é porteiro.Volto. Um banho, uma comida, uma ligação. Tenho um disco clássico. De sonatas, me orgulho de ter um disco desses de sonatas. Meu amigo diz que um dia o disco fura porque eu ponho todos os dias nas mesmas músicas. Um dia eu vou escrever um livro. Mas tenho medo. Não sou de dar às coisas seus nomes, talvez por medo ou inveja que elas tenham lá suas particularidades ou vergonha.
Não tenho paciência suficiente. Por isso acabo matando as histórias. Mesmo as que já nascem mortas. Faço, quando muito, duas páginas. Tenho medo.

É certo que eu possa transpor meus medos a um personagem; sei que tenho esse direito e o fiz. Qual é o direito de um personagem? Ele nunca nasce. Eu deixo sempre o fio se escapar. Como se a parede lodenta lisa. Mas um romance de que?

Naquela noite voltei como de hábito. A casa estava vazia e pus meu disco de sonatas tocar. Resolvi escrever, mas só me vinha falar de um escritor com medo. E não existe nada mais terrível que um escritor com medo. A gente não entende nada. Ele se perde e assim também seus leitores.

Pensei que preciso me apegar a coisas mais fáceis: como a dor de chegar em casa e encontrá-la vazia; como as chaves que abriram não as portas de casa, mas as outras. Talvez assim eu pudesse entender aquilo que escrevia e então me viesse a cabeça uma solução menos dolorida para se criar histórias e viver um pouco delas a cada vez que lidas.

Olho para minha casa nesta noite. Na minha cama está entrecoberto um corpo quente que me alivia, por que só assim sei que era um sonho e que meus personagens são imaginários. No contato da pele. Para o contato da pele ponho uma sonata. Mas a música tem o poder de me fazer perder, como se a parede lodenta lisa. Os personagens revivem dentro de mim. Talvez devessem morrer.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Para ler ao som de Yann Tiersen ou Beethoven

Chega de estórias

Expreme sai
Te.
No respiro
Doce quente
A lágrima
Escorre
Essssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
Corre ! ! !

Vento brando
Olhos cheios
Atravessada a rua
Através da

música

quarta-feira, novembro 22, 2006

nada

eu quero uma imagem fixa.
talvez um som
a pele lisa rompe e jorra sangue
o concreto abre e nao sai nada

domingo, novembro 12, 2006

Horror

____no momento da descoberta, eu vi o Horror; tornei-me a mim mesmo. O Horror era de olhos grandes esbugalhados, de um corpo magro esguio sem forma
O Horror se mostrou para mim atrás da porta, de respiração aflita [ eu não desviei os olhos e naquele instante eu permiti, não tive medo ] ele quis algo de mim
Sem saber meu olhar publicou a entrada, então o Horror se fez atrás dos vitrais, das janelas, dos móveis, ele estava sob minha cama, frequentava por baixo dos panos [ a cada encontro o Horror me torna um pouco inexistente ] ele sai de dentro dos armários com aqueles olhos.
...ter visto o Horror foi trazer a existência para o peito, é não ter nascido e respirar.
O Horror s'esconde pela casa, está nos detalhes imperceptíveis que só eu posso enxergar
[ Ele me fecha a alma.

domingo, novembro 05, 2006

Interstício

Se eu pudesse eu apagaria os sonhos. Eu apegaria aos sonhos, eu a pé ganharia os sonhos, eu a pá agarraria os sonhos. Eu, do pó gozaria os sonhos. Eu cantaria uma música muda e voaria num som infinito e lá o espaço físico estaria fora de questão. Eu pegaria um novelo e desnovelaria o tempo, desfiaria todos os sonhos de todas as avós e então choveria sobre um chão que nunca chegasse e a água se depositaria naquilo que não tem fim_______ que não tem ponto e a cada ponto desfeito da lã uma lágrima cairia de uma avó


Eu cresceria e m´abriria m´expandiria, do sonho apegado um punhado d´ar que do céu sendo eu despejaria avós encantadoras e a cada choque contra o chão inexistente um grito eu iria querer dar, mas não consigo, não consigo, e eu quero, sentir, mas não posso porque se eu gritar o sonho acaba

__pressa__

Está chovendo. Estou todo molhado. O trânsito está insuportável. Larguei carro. Cheguei. Toma meu coração. Desculpe te entregá-lo assim, ainda sujo de sangue.

segunda-feira, outubro 30, 2006

____________

Folha branca invisível que me espera naquilo que ainda não existe e que logo quando nasce morre. Natimorto.
Ouçamos a música!!!
É a solução. Porque o mundo gira como um vinil. Tudo não passa de som. Mesmo no vácuo.
Procuro nos recortes, meus recortes, cortes, pedaços de mim, uma logicidade. Quero contar uma história. Disseram-me que ela já esta contada, mas insisto.
Ela é tão linda. Nua.
Hoje estou visivelmente impossível.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Envelope Lacrado

Recebi um segredo ontem pela noite. De um alguém que nem sequer posso contar, não somente porque eu não tenho conhecimento, mas porque segredo é segredo e assim me foi ensinado.
Um bilhete me foi avisado. Penso, desde de muito cedo é verdade, que o segredo deve ser muito segredo mesmo, daqueles que a mãe só contava pro vigário. Mas como é que pode?
Recebo um bilhete e nem o tenho em mãos! Recebo um sentimento e nem bem sei seu genitor!
E agora como durmo? Não posso guardar algo que não saiba. Todos sabemos que a mulher engravida e lá dentro há um bebê.
O bilhete me atordoa.
Suba no ponto mais alto dessa cidade e grite seu segredo, escreva tudo em uma folha e após confeccionar um belo avião de papel lance-o aos ventos; lhe garanto: dormirei melhor.
Anuncio no abismo então, o amor que nos é escondido a cada bilhete ocultado-avisado.

segunda-feira, outubro 09, 2006

___Choro profundo___


Desculpa, eu chorar. Eu chorar assim tão invasivamente, olha o que eu estou te impondo!, meu Deus e eu nem sei de onde mesmo que viestes, eu não sei o que carregas contigo, das tuas angústias, do que se trata esse vaso de flores rutilantes em teus braços.
Sei que não existe um culpado e que não tenho o domínio.
É que eu preciso. Ainda não me conheces bem, e de certo que nunca irá, mas tentarei te acalmar dizendo que a gente acostuma-se com tudo. Mas sinto que comigo é diferente. Eu choro só de imaginar, de ver, há vezes em que um sopro mais gelado me deixa em prantos. Não sei o que é isso que está em mim que não seguro. Às vezes apenas acordar é o suficiente para meus olhos se afogarem num choro compriiiido e baixinho. Quase sem som.
Mas olha eu, dizendo essas coisas. Eu te assustei... é como uma bola de neve sabe, não, eu nunca vi neve na minha vida. Já até cheguei a duvidar que neve realmente existisse... Se me calo eu choro mais, preciso ir dizendo aos montes essas coisas que vão saindo assim, às vezes um pouco estranhas outras até mesmo convenientes mas em todos os casos sem muito controle meu porque nessas horas desconheço os significado de controle e de tudo e pra te dizer o bem da verdade me desculpe. Pareço uma folha seca. Calma, eu vou respirar e ficarei em silencio____________
Eu queria chorar todo choro que existe no mundo de uma vez só.
O choro ninguém explica. Quem nunca ouviu o barulho indecente de um ser que chorou. O choro é a voz do inconsciente. Choro é desespero. Contração. De onde vem o choro? O choro é a língua de Deus, a salvação. No fim, se a Torre de Babel tivesse sido construída, veriam que todos, sem exceção, chorariam e se entenderiam mesmo os das nacionalidades mais distintas. Deus virá nos salvar no exato momento em que todos nós chorarmos ao mesmo tempo; não está longe. Todos chorariam, o mundo entraria em contração e então talvez um novo Big-Bang surgisse, Deus choveria junto e inundaria o mundo por 40 anos.
Eu preciso chorar todo o choro do mundo de uma só vez.
Eu caí na armadilha. É sabido que nunca se deve começar qualquer coisa, não existe volta. O segundo é o que basta para se estar preso a toda eternidade. Meu erro foi ter chorado uma primeira vez. Quem ensina o choro? Não... Querido, choro não se ensina. Choro sai. Foi um susto tão grande sentir o choro: aquilo que saindo de mim me invadia toda, me transbordava de mim mesma. Eu chorei por quê? Chora-se por tanta coisa e eu nem sei. Não devia ter lhe dirigido sequer um oi, sequer devia ter pensado em lhe construir, em imaginar, sonhar é um erro. Agora estamos aqui presos a algo que nunca existiu; já até criamos uma relação, talvez até apelidos. Já temos memória: um do outro. E você vai chegar em casa e contar à sua família que durante o seu dia sufocante se deparou com uma mulher que sobre ti despejou todo o peso do que é um dia, pela primeira vez, ter chorado. E eu chegarei em casa com você na minha cabeça e não direi nada a ninguém porque ninguém...(choro profundo).

terça-feira, outubro 03, 2006

Partida-Chegada

Sou uma corrente de ar e deslizo por-entre-sobre tudo.
Minha vontade é infinita;
Sou as estradas invisíveis dos aviões.
Minha força é atômica e desenho no espaço aberto sem deixar escrituras
Só podem me sentir, mas se ver é um sentido por que não me vêem?
Minha cor é não-colorido, mas tenho coração.
Se anoitecer, sou tão rápido que fujo
Meu legado é não ter intenção.
Será? Até finjo me acreditar...Preenchido de uma paz que inunda
Meu quarto novo.
Sou solto demais, bóio numa gelatina prazerosa e amoleço as paredes [com o]
Movimento natural da respiração.
Sou o ar comprimido da contração-dilatação, diafragma do universo.
Me incrusto nas vias cimentais, sentimentais, da estrutura forte que [chamamos “concreto”]
Sumo
Misturo
Saio
Medito
Sigo, pois minha vontade é infinita
Meu ciclo é infindável
Sou as estradas invisíveis nos céus dos aviões, e
Meu coração é
Seu.

quarta-feira, setembro 06, 2006

____Procuro o quê?____

Meus pés amputados. Os meus cabelos tortos. Procuro por entre as mãos emaranhadas de fios soltos de cabelos. Procuro o quê? O que busco não existe. E meus cabelos só me caem. Soltam pelos dias infinitos sem razão. Porque não há razão. Nunca houve. Na essência da coisa não existe razão. O motivo nos foi escondido. A salvação é não encontrá-lo. Mas procuro de todas as formas. Minha última fixação é por cabelos e árvores. Ando tramando não-sei-o-que com as árvores. Elas já me perceberam. Eu me percebi. Nos meus trajetos diários confisco cada árvore da rua, classifico, estudo suas folhas, escolho um dia do ano, tento analisá-las, guardo as sementes, faço um projeto. Nunca me interessei tanto pelas sementes das árvores. Somente das árvores certas, já existem imitações e seria um erro fatal gastar o tempo infindável com as não-árvores. Para tudo existe um tempo útil. Eu tenho um tempo, o tempo que me é dado pelo cair dos cabelos. O tempo é a metáfora. A semente que é o tempo. Essas sementes que tenho aprisionado. Elas me olham gritando. Ditando-me o tempo. Há nas sementes a urgência. Em todas, mas nem todas___
Busco fora de mim o que não tem direção. Já a semente tem direção, ela cai reta como um fio de cabelo vai ao chão. O cabelo é metáfora: as folhas são os cabelos. As folhas me ditam o tempo. Folha é a semente evoluída. Eu procuro a evolução. Tenho o tempo cronometrado como o das árvores. As folhas que caem entre as mãos emaranhadas. As árvores também procuram. Eu procuro o quê meu Deus? Diga seu caminho árvore, a saída é te seguir. Minha cabeça está careca. O meu mapa se perdeu. Eu me.
Os meus projetos____minha soberania. Ter as sementes em mãos me torna pronto. Emancipo da questão, é tudo que um ser humano por almejar [ e as árvores já me sabem ]. De posse das sementes eu me torno pai e mãe, eu sou o dom da criação, eu sou Deus___eu seria mais que Deus se___se deus fosse___Eu é que sou. Planto as sementes, posso executá-las ainda proto-seres e ver o fio da vida, onde as respostas escondidas estão. Descubro puxando a frágil proto-planta da terra e expondo sua ainda proto-raiz à morte. Por sobre a mesa infértil eu deixo a proto-vida agonizar. Eu crio e descrio. Eu procuro o quê?
Todo o resto é metáfora, todo texto, a raiz é a metáfora, todo o resto. A salvação é a metáfora, é a raiz [ _____ e meus pés amputados ______ ]

sexta-feira, agosto 11, 2006

Ritmo

Posso ouvir sua respiração. A cada silêncio cortado uma música lenta e triste intercalada. O peito incha e murcha, como se dissesse: “veja quanto trabalho para continuar do teu lado, não paro nunca, não posso”. Guarda estas coisas na cabeça amor. Não precisa me dizer porque eu vou esquecer, ouve só a música lenta-triste, ouve só, sozinho no descansar do sono, lá onde nem eu nem você pode entrar. Sozinho no amanha sem nós. Posso ouvir sua respiração mais forte. O peito parece que vai explodir, já nem murcha, quase suicida, como se dissesse: “Nãoooooo, Nãooooo, Nãooooo...”. A música agora tá urgente. Aperta no ouvido, me desarmoniza. Mas ouço o estacato do seu peito só. Máquina potente. Só ouço ele. Como se sonhasse lá no impenetrável dos sonhos uma coisa que nem sei o nome. Que de tão feio é inimaginável. Só dói.
Posso ouvir sua respiração lenta-calma porque você acordou e me sorriu um sorriso lindo-acolhedor.

Ritmo

Posso ouvir sua respiração. A cada silêncio cortado uma música lenta e triste intercalada. O peito incha e murcha, como se dissesse: “veja quanto trabalho para continuar do teu lado, não paro nunca, não posso”. Guarda estas coisas na cabeça amor. Não precisa me dizer porque eu vou esquecer, ouve só a música lenta-triste, ouve só, sozinho no descansar do sono, lá onde nem eu nem você pode entrar. Sozinho no amanha sem nós. Posso ouvir sua respiração mais forte. O peito parece que vai explodir, já nem murcha, quase suicida, como se dissesse: “Nãoooooo, Nãooooo, Nãooooo...”. A música agora tá urgente. Aperta no ouvido, me desarmoniza. Mas ouço o estacato do seu peito só. Máquina potente. Só ouço ele. Como se sonhasse lá no impenetrável dos sonhos uma coisa que nem sei o nome. Que de tão feio é inimaginável. Só dói.
Posso ouvir sua respiração lenta-calma porque você acordou e me sorriu um sorriso lindo-acolhedor.

domingo, agosto 06, 2006

Outra Possibilidade

Mas será mesmo que eu não tenho esse direito?

Uma Possibilidade

Está difícil fechar os olhos.
Ou o coração.

E isso aqui é apenas um retrato dessa minha vida polaroide.
Um retrato e eu não posso parar por conta disso, não posso mais ficar pensando nessas coisas, coisas tão do umbigo, tão que apenas me emocionam e não fazem nada pelo resto, que é muito mais que esse todo torto que escreve.
Isso é um retrato muito pequeno. Olha só, tenho 23 anos, já não posso mais chorar com essas coisas tão insignificantes já que eu sei de tanta merda que está acontecendo agora, neste exato momento.
Sinto que a casca está ficando mais dura, é uma contra-ecdise de sentimentos que tenho, algo que aprisiona mais ainda meu ser. É doído, mas preciso. Olha eu de novo, doído; eu nunca soube o que realmente é algo doído.
Um bando de besteiras inúteis para os fracos.
Assim fica difícil até de mostrar a cara. Dá vergonha.

É que quando penso que tenho certeza de algo vejo que estava enganado e que minhas afirmações foram realmente infundadas.
É que a cada momento de segurança que tenho na vida eu vejo que me afasto rapidamente de mim mesmo. Vejo que a cada direito que me dou eu me afasto completamente daquilo que pensava ser; a cada comentário sobre alguém eu me vejo como espelho fiel às atitues repreendidas.
Então não há saídas, somente uma lacuna enorme com cor de vazio.

Não quero que falem nada sobre isso aqui. Nenhum comentário.
Obrigado.

sexta-feira, julho 14, 2006

[ Um Presente: Peixe meu para você ]

Eu te dei um peixe e ele voltou. Voltou pelas mãos de outro. Um outro. Só que o peixe não era apenas um peixe; era amor. Amor com o qual você não soube o que fazer, por isso deixou para um outro. Para que o bicho vivo respirasse, sofresse lá em um outro. Um alguém. É que o peixe é assim, é de uma natureza, um amor difícil, solitário, quase frio. E quando não se dá conta a gente ou joga no vaso e dá descarga, ou passa o amor para frente. Mas um outro alguém não suportou o peixe e por coincidência fez com que o amor chegasse até a mim. Eu reconheci. Eu sei das coisas que são minhas. Aquele amor, aquele peixe, era meu. Meu que dei para você, que você deu para alguém. Você foi incapaz. É, acho que realmente só os peixes sabem, na solidão fria de peixe, o que é o amor.

A João Cabral de Melo Neto

O amor comeu meus momentos mais felizes,
E eu permiti.
O amor me afastou das coisas
Que eu acreditava mais amar,
E eu permiti.

sexta-feira, maio 05, 2006

Sobre___Vida

Vida é mesmo coisa muito frágil. Eu já sabia. Sempre soube. Os momentos também. Já o corpo, a matéria viva-quente, a carne inconsciente, esta sim é que é forte; luta sem saber a causa, tenta manter-se viva a qualquer custo. No decorrer do dia, por exemplo...onde os momentos são quebrados a cada instante... Espero o ônibus, tem aquele sol característico, o pensamente um pouco distante, uma certa urgência de não sei ao certo...tudo bastante normal, mas aí ouço a batida, vejo o menino rodar no ar de meio-dia e quarenta e cair torto, cheio de sangue, quase que morto. O susto, o meu controle, o telefonema, as pessoas chegando, os comentários, o desespero, o tempo escorrendo pelos poros, a urgência, o corpo forte, mas a vida frágil. O meu choro.
O meu dia acabado não é nada, as preocupações tornam-se até vergonhosas frente ao atropelamento. Nunca vou me esquecer do corpo, um corpinho de 10 ou 11 anos, ali contraindo-se todo, tentando se reorganizar sem saber a causa, lutando.
Sempre soube da fragilidade da vida e dos momentos. Meus almoços em família por exemplo. Foram raras as vezes em que a garganta não fechava e descia uma forte vontade de chorar. Certa vez, sentindo que eu não daria conta de segurar, comecei a dizer algo, contei uma piada, para despistar. Na metade dela estava eu desabado em lágrimas. Ninguém entendeu. As pessoas em geral não compreendem. Almoçar em família para mim, ainda mais se for em silêncio, é muito difícil. Frágil momento apenas. Não se pode explicar isso, nem mesmo o que leva um jovem ter de ser atropelado antes do almoço. Talvez a comida daquele dia estivesse intoxicada. Vai saber o que é pior, não é?
Só sei que vida é mesmo coisa muito frágil.

sexta-feira, abril 14, 2006

.....................................

E se eu dissesse que te amo, hein? E se eu soltasse o verbo e nem pensasse nas palavras, no que elas fazem com o outro; então eu me esqueceria que uma dia tudo acaba e entregaria todos meus sentimentos, minhas armas; e então? será que seria o primeiro passo para que você me achasse imaturo e começasse a me querer só como um amigo?mas e se eu tentasse colocar dentro da sua cabeça que é tudo verdade e você pode me amar o mesmo tanto! e se me dissessem que no amor não há igualdade?
Não tem problemas, eu diria que eu sei, mas que sempre gosto de testar.
e então?

domingo, abril 09, 2006

[[[papel_amassado]]]

Como um escritor cansado, que desiste da sua obra incabada:
Ao me surpreender sentado em uma poltrona velha, como se ali estivese apenas deixando o tempo me passar, me ponho de pé, ando sem exitações até a janela e me lanço ao espaço, do 12 andar:
Nos 3 segundos seqüentes sou invadido por um turbilhão de sensações, um êxtase, uma falta total, um puro devir e

domingo, abril 02, 2006

_Felicidade_

De short e uma camiseta velha, o bigode de leite gelado, ao lado o copo duplo sujo de branco, rodopiando por sobre a cadeira giratória do computador, cantando uma música besta, imitando com as mãos o tocar de bateria, se pensando só no quarto, numa manhã fresca de domingo.
Pela greta da porta, eu vi.

_O_Curso_da_Dor_

Escuta meu problema!
Escuta: Se fecho os olhos eu consigo ver, passear pela geografia do teu rosto, do teu corpo, do teu corpo nu, dos teus arrepios. As imagens, fotografias do seu jeito de ser.
Escuta: Se eu fecho os olhos eu sei sentir o cheiro, o teu cheiro exalado do amor, do sexo, do banho. Escuta?
Escuta meu problema: Se fecho os olhos posso sentir todos os gostos, nossos gostos.

Solta! solta! solta!
Como é que solta?
A cada entardecer me apaixono por ti novamente.

Solto. Começo. Vai despregando como quando a carne rasga e separa a fibra da fibra da pele da veia do líquido do calor da cor e cai abrindo um espaço no vermelho rugoso. Estranho, porquê se fecho os olhos, ainda eu...
Desprega de um e prega em outro. Antes um agora... é o curso normal?

A cada entardecer me apaixono por outros "ti" novamente.
Domínio? Difícil, muito difícil, por que se fecho os olhos, as lembranças.
Mas vai despregando...soltando...doendo...caindo...mas é preciso guardá-las...aonde elas caem?
Escuta meu problema: Até quando é preciso ter lembranças? Até quando sou capaz de ir guardando, JOGANDO FORA DENTRO DE MIM, os momentos, os tempos. E são tantos, tantas, todos. São lembranças demais, já disse, pessoas demais. Eu nisso tudo: de menos.
Escuta meu problema: Preciso ser uma lembrança só. É que passa rápido demais e não consigo acostumar com os eus tão diferentes dessas várias recordações.

Mas vai despregando...soltando...doendo...caindo...e dói mesmo...e vai pregando novamente...
............................
............................
............................

domingo, março 19, 2006

__Primeiros__Sinais__

Ao olhar num relance, movimento rápido frações de milésimos de segundos, um parar exato no desespero da dor de coração, no instante do pisar em falso e estar no ar prestes a cair mas ainda se vendo vertical sobre os olhos secos dos outros, uma previsão da dor [anzol no olho do peixe] no momento certo que a lágrima se forma a partir da consciência da estreita solidão da vida, ínfimo sentimento, segurança perdida no cair de braços soltos da janela do quarto do prédio cinza, fino sentimento exposto o fio da teia de aranha.
Querido, querido, não me ponha contra a parede assim. Não me faça sentir novamente o estar de dedos frios na fronteira do precipício. Cuidado com as pistas, não as me dê assim de mãos beijadas. Não crie, tão na madrugada, no amanhecer da gente, as possibilidades do cair nos buracos infinitos do pedir [não me deixe jamais].
Deite seu rosto delicado em meu peito e escute o silêncio marcado que brota e se esvai do meu coração. Feche estes pequenos olhos embebidos, acalme o ritmo da sua bomba de amar e me aceite, mesmo sabendo que eu possuo um bêbado amor e assim sempre será.

quinta-feira, março 16, 2006

La__________Morte

Mots recortadas:

Tentação

Tent`ação

Tenta ação

Tenta, tenta e não consegue.
Persistência que persegue a existência.
Je me suis oublié_______________.
Porém, não m`envergonho
De ti, de mim, de ninguém.
Se omito é porque seria melhor que não soubessem

Omito

O mito

Minto

Soubessem o quanto o sofrer me alimenta,
Faz tão bem.
Sofrer
De ti, de mim, de alguém.

Tento a ação do mito, mas minto para mim mesmo.
Ando tão "sais pas" que em mim nem as lágrimas.
Oui, je me promettré le silence pour tous jours.
Silence,
C`est l`action que me reste________

____________________________

sábado, fevereiro 18, 2006

Para se morrer no meio fio________

______________________________________________

Pela calçada cor de lágrima
no meio fio, meio fim, meio de mim.
Para se morrer é preciso [ entendimento poético ]
Deve-se ser forte-fraco-forte-fraco- - - - - - - - assim - - - - - - -
E pela noite ficam pedaços de mim,
perdidos.
Desejo um apoio assim sabe desses que se quer
Então busco me encontrar em algum meio fio :
Aos prantos, num choro de morrer,

lavo a calçada, toda ela para você.
E morro.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

[ r e t i c ê n c i a s ]

Ana, minha filha, não mexa neste copo; esta água é da mamãe. Só da mamãe. Vamos querida...e Tom? Já disse que não quero saber de você de interesse nesta gaveta velha! Crianças, para o quarto! Olhem a Clara como dorme; quero vocês assim. Deitem. [ e deitaram caídos de sono. disse a eles que ] a mamãe vai contar uma coisa para vocês: hoje, não como o tempo vivente, mas como um tempo histórico; é porque já fazem 10 anos e eu___ olhem para a mamãe, tenho já 43 [ as crianças olharam como se ]. Há algo que é preciso dizer-lhes: demora-se mesmo aceitar as formas, até por conta disso que me perco [ me perdi entre quatro olhinhos sonolentos ] e até as palavras, elas me fogem todas. Perdoem mas agora mesmo não era isso que eu gostaria de falar. Preciso que ouçam e ainda são tão jovens. Oh! Quando não se consegue viver a brutalidade real diária, como o pão, este: o melhor exemplo! o pão que se compra todos os dias às 17:00 horas; assim meus filhos, vive-se de enganos como vivi. Eu: onde vai-se para a cama de coração quente, mas de pernas frias e com o tempo, um tempo talvez de 10 anos, assim, com o tempo crianças: o gelo das pernas irradia para o ventre de mulher. Pretrifica. Consome-lhe os seios: um câncer nas vísceras [ a cria já toda ela dormia ], a pele com o tempo vai sendo toda manchada e já não se pode chorar. Decide-se. E perdoem se abro os cantos da boca, mas esta mãe, que antes mulher, agora sêca. E de que serve uma mulher que não pode mais chorar? Icapaz de si.
É que quando se nasce errado, faltando uma parte, não se deve procurar a outra. Deve-se aceitar, ouçam bem. Sabem o motivo? Corremos o risco diário de encontrar a outra parte até mesmo no trajeto da padaria e encontra-se; mas um dia, sem grandes motivos, esta metade vai embora, como se houvesse encontrado sua outra metade que não eu, então o que sobra não é a minha metade e sim talvez um quarto dela. Ora crianças, é a mamãe quem diz, um dia aprenderão a matemática de viver.
É por isso: hoje como história de minha vida, como chuva que troveja para se anunciar, hoje resolvo e caio como que do céu e sem medo da queda me caio toda de um alto e fecho os olhos, apenas aceito, ultrapasso minha velocidade e chovo no chão [ era melhor mesmo eles continuarem a dormir ].
Apenas ouçam: não deve-se viver por 10 anos numa mesma estação. Existe o mais além, como as viagens que só vão. Tom, querido, quando se tem 9 anos a gente se assusta mesmo com as mamães, mas quando no outro dia se acorda: não lembramos de nada passado e vive-se tão bem! Tão bem que até não damos conta. Amanhã a engrenagem desta casa há de funcionar. [ abracei o pequeno ] Ana, você dorme e parece sonhar com tantas coisas! E de boca aberta parece estar com sede, parece sonhar com o copo de água da mamãe. Só do mamãe. Minha querida, um dia econtrará o seu, mas esta água, meus filhos, é quem me pagará os 10 anos. Insuportáveis; mas insuportável sou eu. Perdão se estou sendo dura demais.
Tom, Ana e Clara, vocês são tão pequeninos, mas valerá a pena: é preciso morrer a cada segundo vivido e esquecer. Eu queria um tempo único do insntante milesimal, do vivo-morto; só assim conseguiria ser plena e 10 anos não seriam nada porque não se contaria o tempo. Não haveria tempo hábil para se criar juízos de valor, não haveria a felicidade mas também a tristeza. Apenas seríamos; não haveria memória, somente o agora já morto e então transcenderíamos.
Desculpem a mamãe se incomodo o sono de vocês [ não se mexiam, mas sabia q de alguma forma eu estava sendo útil ].
A água, Ana, é para matar minha sede; regar esta alma seca em que me tornei. Ao bebê-la também dormirei, o mais secreto sono, ao lado de vocês. Boa noites queridos. Boas vidas [ bebi e chorei como daquela vez em que despenquei dos céus; mas agora o fim parecia nunca chegar e eu despencava como quem não acha o fim entre dois espelhos, me desfacelava toda, desintegrava em partes de mim, úmidas pelo choro eterno; mergulhava feliz no puro vento; uma euforia não de quem encontra um ponto final, mas as [. . .]

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Quando

Quando Ela se for (...)
Mas isso só quando.
Não serei MAIS,
Pero si ahora soy:
Entrego-Esfrego
Expurgo prazer pelos poros
E você voicifera "vemvinhovermelho!"
Vou na taça,
Dissolvido em g o t a s .
.
.
.
.
Você me bebe todo__________
Eu te tonto!
Vazo, me entorno pelo canto do lábio
Escorro __ pelos seus pêlos, peito, barriga, coxas. . .
Me seco lá no quente friccionar do teu corpo.

E X P A N D O

Mas isso,
Só antes de quando,
Mí corazón.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Como um suspiro

A mulher e o menino. Assim, frente a frente, filho e mãe, um do outro, por entre os dois uma taça esguia lambusada de chocolate. Esta fazia barulho, mais do que, ou era invenção dos meus ouvidos? Era assim, neste silêncio, só dos dois, que a mulher cuidava e mostrava seu amor ao pequeno.
Grandes olhos verdes para pequenas amêndoas pretas. E o silêncio...que só. Mas era assim, como se nada fosse preciso dizer que acontecia. Apenas o necessário.
Havia uma certa inquietação ali: ele por querer se agitar, ser como se é quando se é assim novo; ela, talvez, por querer um amadurecer dele, por querer dizer ao filho que é assim mesmo; somos dessa fôrma, forma: as vezes é bom outras nem sempre; que se sofre mesmo, mas que se sofre menos quando reconhecemos tudo assim, do jeito que se é e que ela, na verdade, não é assim tão infeliz quanto lhe pareça, mas que a felicidade dela é diferente, pois tem uma certa melancolia já que quase nunca contém o choro por coisas banais; que pode soar estranho, mas que ela morre a cada pouquinho de vida, cada suspiro e que no fundo tudo isso é de uma beleza infindável que até chora. Que ele devesse se acostumar com essas coisas da vida, a taça suja de chocolate, por exemplo, e os dois ali tão de olhos nos olhos, era, para ela, um dos momentos mais felizes de mundo e que se não estivesse tanta gente ali, até choraria. E que nem por isso era preciso dizer alguma palavra.
Tentava dizer ao pequeno, quem sabe, que viver é muito bonito, mas quando se é calmo para as coisas da vida, quando se aceita viver a vida; que ela, no que chamam de rotina de vida: de filho, de homem, de casa, de roupa, de comida, de filho, de homem, de cama, de mulher, era feliz e não que fosse um pouco contentar-se, mas que era o troféu do seu tão singelo sonho de vida.
O filho, ainda de olhar brilhante como se quisesse explicar tanta coisa àquela mãe, ouvia o silêncio do instante como se compreendesse os ensinamentos da mãe; mas, talvez, ainda sem jeito, quisesse dizer: Mamãe, eu sei. Obrigado, mas ainda não é a minha hora de compreender tanto a vida quanto a senhora. Mas obrigado, nunca esquecerei. Quem sabe não pedir a conta fosse um bom começo para se viver? Enquanto posso levarei as coisas mais levemente: cama, comida, banho, brincadeira, comida, risadas, mãe, pai, casa, vida, cama.
Os dois se olharam por mais um bom tempo. A conta veio sem que pedissem, como se o garçon adivinhasse o momento certo. Ela sorriu, pagou e com o cantinho da boca sujo de chocolate saiu com o menino, risonho por ver a mãe assim como que lambusada e tão doce agora. Andaram alguns metros até que a esquina os escondesse.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Destino

Vamos nos casar em Paris?!
Se eu escorro então corro as mãos por entre os pêlos,
Escorro entre as pernas,
Vaza.
Vamos para Paris!
Sorriso aberto, destino incerto, desejo concreto.
Ah!, vadio grande sofredor,
No deleite da carne,
No embalo de passos largos e pesados, de um sorrir de corpo inteiro.
Vai mesmo! Vai à Paris!
Vaza. Vaza. Vaza. Recomeço. Vaza. Vaza.
Nosso destino é Paris, mas não deveria ser de todos os vazantes?
Sacana sambarana no emaranhar das coxas. Vaza.
Inquieto tretilheto dedilhar aos olhos dos trouxas. Vaza.
E não me dói? Não. Prefiro vazar em Paris a me entupir de certezas estagnadas.
Te espero e vazo.
E não deve ser assim, Paris?

terça-feira, janeiro 10, 2006

Ah, se

Se eu pedisse, recebesse um talvez não bem querece.

Se eu chorasse, talvez chovesse em tudo que vivesse.

Se eu pudesse, eu criasse criações tão minhas que se impregnasse no mundo.

Se eu soubesse, eu fizesse uma música pra você agora.

Se eu tiveesse, eu ligasse no volume mais alto pra que você escutasse.

Se você deixasse __AH__ / Ah se você deixasse.....

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Receita

Talvez pudesse dizer que conheço o indizível
Mas logo refreariam: "Os cães daqui são como os de lá, felizes e engraçados, baby..."
E de que adianta todo esse inglês se na língua que bate dentro de mim você é analfabeto?
Convenhamos, Cher bostinha.
Palavras soltas e embriagadas não calam mais sua boca.

Brota silêncio dos olhos/ das mãos/ da respiração. Algo desconexo = des con certo. Indizível.
Vontades caídas, escravo de um amontoado de átomos. Lugar indescritível.

Bebida que te tira de mim. Eu embebido em você. Ali no fogo brando. Por horas.
Cozinha do Diabo.
Mas os cachorros daqui me parecem tão mais cachorros, felizes e engraçados. Baby.
De onde quero ver e vejo. Com aqueles velhos óculos de lentes cor escarlate.

Para o indizível, fones de ouvido sujo.
Para a visão, pálpebras grandes grossas que escondam os segredos que só eu posso ter.
Para você, aulas particulares de língua que bate dentro de mim.

domingo, janeiro 08, 2006

Da carne

Olhos meus fervilham sobre ( ) ( )s/ A boca mordisca um gosto de desejo/ Bundas embaladas como em um movimento náutico animam ainda mais a música, nos deixam zonzos/ A bebida me dança/ Todo/ Palavras quentes ou assuntos culturalmente banais: ouço plenamente agitado, estou surdo/

Para todos aqueles que como eu

( Para ler ou viver ao som de Sin encontrarte, Tamasita Nuñez. )

Me assusta, eu-assim-tão-perto-de-mim. O som abafado vinha de longe. Eu descolado-de-mim na realidade presente, seguia a passos o longo corredor e ia aabrindo cada porta que se fazia pela frente. A mão direita seguia junto à parede, como quando se demonstra um prolongado carinho, já as unhas, essas secas e friccionantes, como quem quisesse que. A cada porta o som aumentado arrepiava minha pele agora não tão descolada, mas fui ensurdecendo. As luzes eram tais que azuis ou verde cintilante, não lembro bem. Por fim a última porta, de madeira escura e pesada. Abri. E dentro daquela sala estávam eu a e música alta. dançávamos nas pontas dos pés. Fui obrigado a me observar : era eu-descolado-de-mim. Talvez ali feliz ou sonhando ou talvez isso nem importe, pois naquele instante havia um abismo que me separava de mim. E há até hoje.

In_util

Inútil.
Não sei porque insisto.
As palmas já não emitem mais tanta energia.
Trazem outros ares.[escuros]
Mas insisto.
A borboleta amarela ameaça a voar.
E voa.
Como num dia triste de ventania,A brasa então brisa.
Agora persisto.
Os olhos secos não aspergem lágrimas, mas vontade.[pura]
Foi-se o tempo.
O tempo em que a criança via a borboleta amarela como brincadeira.[não tinha dimensão daquilo e até se esquecera]
Inútil esquecimento.
Persisto em mim, na criança, na força que a fez chorar.
Sim.
Em ti [também], na impossibilidade das coisas, nas palmas que hoje em dia me são outras.
Na brisa, este vento leve soprado de sua boca que me faz borboleta amarela em brasa na brisa.
Inútil.
[talvez eu]

...Tão...

É que eu achei tão bonito...Ele vinha com um vaso de planta verde nas mãos. Até tentava esconder, mas o seu desajeito. O meu desajeito
É que eu... A música simples feita a partir de um poema que foi feito a partir de idéias que vieram de palavras. E ela disponível pra mim. Ali no sofá, com olhar atencioso e pés inquietos esperando de mim não sei o que. E meus olhos cada vez mais cheios de água e meu olhar, agora, disfarçado querendo chorar.
Tão bonito...As ruas cheias de gente com suas roupas de frio. O meu nariz gelado, o passo apertado e o aperto dos olhos para que as lágrimas não caíssem ali, no meio de tudo aquilo. E pra que não caiam aqui, neste exato momento.Mas me lembro de dias diferentes em que exibia, sem preocupações, o rosto molhado, o inchaço dos olhos para qualquer um.
Eu achei tão... O horário marcado, ele chamando o garçom e pedindo mais uma porção de torradas, o silêncio, a mão no meu rosto e o susto, mas era apenas um cílio que acabara de se tornar livre. E a felicidade que tudo isso me proporcionava.
É que eu achei tão bonito...Andar a cidade inteira a pé só para rever você e me reencontrar. Ouvir seus medos e ver que não sou tão tolo quanto pensava ou até mesmo ficar calado porque sou o mais tolo de todos. Pensar que se existisse um concurso de tolices eu ganharia o troféu em primeiro lugar. Imaginar minha foto em todas revistas e jornais e uma roupinha ridícula, talvez até uma faixa ou uma coroa e eu perdendo toda minha privacidade, pois me tornara o campeão, o símbolo mundial de tolices. E você indo embora porque agora as pessoas não largavam do meu pé e eu no fundo sabendo que toda minha tolice era verdadeira
É que... Ele estalando os dedos para que eu acordasse de uma tolice, ou mesmo levantando os braços tentando me provocar para mais uma jornada de cócegas. Elas rindo de mim e tentando me enganar, mas eu sabia de tudo e fingia todo aquele momento. A outra levantando-se do sofá e também segurando as lágrimas nos olhos, mas falando alto que a carne estava sem sal e não havia ficado tão boa quanto àquela do aniversário passado. O tempo demorado dentro da cozinha, fingindo buscar alguma coisa na dispensa e eu, sem coragem de ir atrás, tentando chorar tudo que podia enquanto ela não voltava.É que eu achei tão bonito...Chorar não por tristezas, mas por essa felicidade calma, que me deixa meio mole, na qual estou mergulhado.Ver ela trocar o sal por açúcar e estragar a carne que estava deliciosa ao meu paladar. Ouvir a mãe dela trocando meu nome e sentir o constrangimento, já que ela sabe muito bem dos desprazeres da velhice. Ele levando um susto e ficando vermelho só porque eu entrei no quarto uns segundos antecipado e vi que a primeira peça de roupa que ele põe é a meia ( esquerda ).
É que...tão bonito... Passar o tempo dizendo que tudo isso é vontade de.

Filete

Com a gilete corto/Essas cartas em construção/O ruído/Aquele olhar que me desnuda/E a menina que roça o batom vermelho entre as pernas/Inocente/Indecente/Mas roça com prazer a menina de dois anos/Luzia trouxe-me um copo com água/E você?/O que traz?/Esta criança?/ Esta maquininha de prazer?/Posso ouvir o cortar da gilete/E sinto um filete de sangue nas gengivas/É você/

Segredos

então te conto as minhas intimidades. Os meus mais profundos segredos. Aqueles que quando chego a dizer, me fazem pensar que dentro de mim há um outro alguém, pois EU não seria capaz de guardar tais coisas aqui dentro. Tudo. Falo tudo e você se faz de um jeito que. Que me conforta. E sai andando em volta da minha cadeira dizendo pensamentos de grandes filósofos e até elogia e me compara com eles. Eu ali, nu, quase do avesso e mesmo assim ainda insisto. Você vem para me esquentar com as mãos, mas elas estão geladas e finjo. Perdi o domínio. Está em suas mãos. Geladas. Eu procurava entender o que tanto segurava em seus bolsos e agora, sem intimidades, já do avesso e gelado como eram suas mãos, arrisco até dizer que era o relógio que pesava nas calças. Este que marcaria o fim premeditado. Nesta tarde procuro meus óculos de lentes cor escarlate. Tento fingir como daquela vez. Assim como se fosse literatura ou mesmo artigos de perfumaria, quase sempre dispostos na prateleira da estante. Estante marrom com três gavetas e nosso retrato. E uma caixa velha onde guardo parte dos meus segredos. Mas já não vale de nada porque então te contei as minhas intimidades e a caixa já é lixo, perdeu a função. Assim como eu.As frases dos filósofos, as mãos não quentes, a cadeira rodeada, o desnudamento, a minha inútil sensação de importância, a vã segurança de um dia voltar a ter segredos só para poder contá-los novamente a você e. Essas são coisas que, mesmo se soubesse o antigo futuro que é hoje, fariam eu voltar atrás e reviver todas as ilusões e desilusões só para meu deleite de estar ao seu lado.

Artigos de perfumaria ou oculos

Coisas de pura cor escarlate. O melhor seria tudo dessa mesma cor. Menos o sangue, esse deveria ser verde. A luvas, o travisseiro, você, nosso retrato colocado em cima do criado mudo, suas meias, meu xampu, o vaso de planta cactus florescido, as lágrimas, o colchão, o leite gelado no início da manhã, aquele meu bilhete dizendo para que você almoce bem e coma coisas saudáveis porque te quero sempre assim, entre outros artigos.E por fim, seria bom tirar os óculos com as lentes cor escarlate e voltar a ser aquilo tudo que quase sempre eu não sei.

Do lado de fora

Quero pedir desculpas por aquele bilhete que coloquei do lado de fora da casa, atrás da porta. Olha, o sangue acabou entrando por de baixo da porta e molhou meus distraídos pés frios. Foi um susto e sujou toda a casa. Eu mesmo lavei as janelas do nosso quarto e o chão ; troquei também nossos lençóis. Coloquei aquele. O copo que você sempre tomava leite gelado pela manhã quebrou. Ontem mesmo comprei um outro. Igual. Sabe, você nunca notaria diferença se eu não falasse. Copo duplo com a borda branca. Deixei no lugar de sempre. Está esperando todo seu ritual novamente. A casa está um cheiro e faz um sol que. Ah! O leite te espera na geleira que está a geladeira. Não só o leite. A cozinha está nova; acabei trocando algumas coisas, mas falta limpar a geladeira. fiz compras pela manhã e você iria adorar. Os móveis da sala estão em outra disposição. Daquele primeiro jeito que você dizia que gostava. Com tudo isso acabei mudando um pouco também. Me matriculei em um curso. Começou anteontem. Ou foi...? Foi antes de anteontem! hum, a memória continua a mesma, mas tomara que goste. As terças e quintas não estarei em casa pela manhã. Emprego novo! As fechaduras ainda não mandei trocar, mas o cara do chaveiro disse que é simples e que em "dois tempos" pode fazer o serviço. "Dois tempos"... é o que basta para tudo nesta vida... Durante as tardes você sabe que dou aulas. Qualquer coisa deixe um bilhete por baixo da porta. Ah, o peixe dourado morreu! Sei que é triste e você gostava tanto dele, mas foi pela falta que se foi. Já estou atrasado novamente! Nem tudo mudou. Ah, tenho deixado o rádio ligado que é para quando eu estiver em casa não me sentir tão só. Mesmo quando saio deixo ligado que é para. Ah, bobagens. Se eu não estiver em casa e você ouvir vozes não se assuste.Espero que leia este bilhete, tão diferente do outro, que deixo aqui no lugar de sempre, atrás da porta do lado de fora da casa.Aqui dentro está tudo perfeito, mas parece que eu é que estou do lado de fora, pregado como um bilhete na porta, exposto a quem quiser me ler.Eu...eu...Aguardo.

Cotidiano

...tenho me tornado menor/A cada dia/Que encontro uma sequência de palavras/Que me mata/Frases que me enchem los ojos/Entopem la garganta/E perco os movimentos só de imaginá-las/E deixo o eco ir e vir ir e vir/enfraqueço/A cada ônibus perdido, a cada prédio velho que descubro novo/Pílulas de filigrana/Doses de morfina/Vício por palavras robustas/Morro sempre um pouco/Tenho me tornado menor/

Janela Fechada

Boa noite meu bem!Quantas surpresas...Hoje choveu sangue! A rua está repleta de corações encarquilhados pululando pelos paralelepípedos.Levantei muito cedo e fechei as janelas do nosso quarto. Na mesa da sala, um copo de vidro, esbranquiçado de leite, ainda conservava gotículas de água. Era recente sua saída. Arrumei nossa cama e fiz uma prece para que o sangue da chuva não te atingisse e manchasse as roupas. Tornei a encher o copo com leite gelado. Procurei as marcas de sua boca no copo e tomei o leite beijando aquela superfície lisa da borda que se fazia você. O primeiro beijo do dia. Tomei um banho demorado, daqueles que enfumaçam todo o banheiro. Estava pronta. Liguei a televisão e o telejornal mostrava uma matéria sobre o fenômeno meteorológico que assolara a cidade. Na tela, imagens de pessoas resgatando os corações murchos, guardando-os nos bolsos, sacolas, pastas, carros, até mesmo embrulhando nos casacos e levando-os para si. As pessoas corriam muito, trombavam, brigavam pelos corações. Era confuso. Pelas imagens, para o meu espanto, também te vi recolhendo corações.Espanto.Espanto.Silêncio.Transcorreram algumas horas no relógio da cozinha. O resquício de leite secara no fundo do copo. Deu nata. Liguei para o chaveiro e troquei o segredo da fechadura da porta. Meu segredo.Este bilhete deixo pregado do lado de fora da casa.Aqui só há lugar para dois corações: o seu e o meu. Será que fiz certo?Será que eu não teria feito o mesmo no seu lugar?Não sei. A chuva de sangue acabou de recomeçar e mancha as janelas do nosso quarto.

Tratado biologico

Habitat natural/Coração plasmolisado/Peixe fora d'água/Quero desplasmólise/O sol que me seca/Sou assim anfíbio/Bicho em transição/Liso grosso/Fases da lua? Inferno astral?Tudo tão árido que sou réptil/Coração tricavitário sofre menos/ECDISE de amor/Casca de corpo minha deixada como imagem plástica da exposição sofremos por amor que fomos juntos naquela quinta-feira que já não quero lembrar porque você/Adaptação evolutiva/Coração crocodiliano/Dentes fortes um couro que só e de dar medo/Proteção intensa armadura da estação vivente que guarda um frágil falso coração tetracavitário recoberto por um bicho pele de fina seda/Músculo de pelúcia/Frágil miocárdio dupla circulação/Já não corre sangue/São lágrimas/E o horóscopo ainda insiste em dizer "novos amores"....